O Aeroporto de Lisboa está a matar a vizinhança silenciosamente

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Guillaume Baviere / Wikimedia

Aeroporto Humberto Delgado (Portela), Lisboa

4% da população portuguesa vive perto do aeroporto de Lisboa. Traduzindo: 4% da população portuguesa corre um risco acrescido de contrair doenças como hipertensão, diabetes ou demência.

Um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, publicado esta terça-feira pela associação Zero, concluiu que quem vive perto do aeroporto de Lisboa tem maior risco de ter doenças como diabetes, demência e hipertensão.

O estudo explorou a ligação entre as partículas ultrafinas emitidas pelos aviões e a saúde das pessoas que vivem perto dos 32 aeroportos mais movimentados da Europa.

“Lisboa é a cidade que de longe mais concentra pessoas a viver, trabalhar e estudar nas imediações do aeroporto”, refere a associação ambientalista Zero, em comunicado.

À Antena 1, Sandra Miranda, da Zero, explicou que dos 32 aeroportos analisados, o de Lisboa é aquele que o maior número de pessoas impacta, num raio até cinco quilómetros: Tem um impacto em 414 mil pessoas, o que equivale a 4% da população portuguesa

Para se ter a noção, continuou a especialista, o segundo aeroporto no ranking é o de Paris Orly, com um impacto de quase metade: 257 mil pessoas”.

Os dados apontam que as partículas ultrafinas são deixadas em suspensão no ar pelos aviões contribuem para um risco de demência de 20%, de 12% para a diabetes e de 7% para a hipertensão arterial – relacionada com a principal causa de morte em todo o mundo (doenças cardio e cerebrovasculares).

“Estas partículas são deixadas em suspensão no ar pelos aviões, dispersam-se amplamente na atmosfera, têm um diâmetro mil vezes inferior ao de um cabelo humano e são invisíveis. Quando inaladas, passam facilmente através dos pulmões para a corrente sanguínea e espalham-se por todo o organismo, podendo originar problemas de saúde sérios a longo prazo, incluindo respiratórios, cardiovasculares, neurológicos, endócrinos e gestacionais”, alerta a Zero.

De acordo com um relatório recente da Health Effects Institute (HEI), a poluição atmosférica já é a segunda maior causa de morte a nível mundial.

Inimigo silencioso

O estudo estima que as partículas ultrafinas decorrentes da atividade do aeroporto de Lisboa possam estar na origem de 15.473 casos de hipertensão, 18.615 casos de diabetes e 1.837 casos de demência entre a população da cidade e arredores. Estes números representam até 9% da população que vive num raio de cinco quilómetros do aeroporto de Lisboa.

“O estudo agora divulgado complementa o estudo da Universidade Nova de Lisboa de 2019 que mostra inequivocamente que a concentração de partículas ultrafinas nalgumas zonas de Lisboa sobe conforme a sua exposição à influência do aeroporto e movimento de aviões. Dada a proximidade do aeroporto ao centro da cidade, os efeitos das partículas estendem-se por áreas significativas”, sublinha a Zero.

As zonas mais afetadas são nas imediações do aeroporto, nomeadamente Alvalade, Campo Grande e Cidade Universitária, onde se situam o Hospital de Santa Maria, universidades, escolas e jardins infantis, e sob a rota de aproximação e descolagem dos aviões, como as Avenidas Novas, Bairro do Rego, Amoreiras e Campolide.

“Trata-se de uma situação que não encontra semelhança em mais nenhum outro aeroporto europeu, desastrosa para a saúde dos cidadãos de Lisboa que vivem e fazem a sua vida nestas zonas, agravando as doenças provocados pelo excesso de ruído”, alerta a associação.

No total dos aeroportos considerados, a exposição às partículas ultrafinas pode estar associada a 280.000 casos de hipertensão, 330.000 casos de diabetes e 18.000 casos de demência.

“Até à data, não há regulamentação sobre os níveis seguros de partículas ultrafinas no ar, apesar de a Organização Mundial de Saúde (OMS) já ter alertado há mais de 15 anos para que se trata de um poluente preocupante”, lamenta a Zero.

Nesse sentido, para reduzir o impacto nas partículas ultrafinas na saúde, a Zero defende a não expansão da capacidade do aeroporto Humberto Delgado e o seu encerramento “para tão breve quanto possível, assim como a promoção da utilização de combustíveis sustentáveis.

“A evidência mostra ainda que os trabalhadores dos aeroportos, em particular os que trabalham na pista, são quem está mais exposto aos efeitos das partículas ultrafinas, pelo que há que criar medidas específicas para proteger a sua saúde”, defendem ainda.

ZAP // Lusa

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3 Comments

  1. Que seja en Alcochete en Lisboa , Porto ou Faro ou R. Autónomas , a ANA , dirá que são os danos colaterais imponderáveis . Portanto a minha questão é , só agora é que acordaram , desde 1942 que foi inaugurado , já era tempo !

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