Alfama: um dos bairros mais conhecidos da capital de Portugal. Lisboa é, pelo menos duas vezes por ano, o palco do dérbi eterno. Depois da glória eterna de um Abel na América, a eternidade virou-se para a Segunda Circular – que também tem problemas eternos – e reuniu Sporting e Benfica em Alvalade. Um dos raros jogos que foram disputados em todas as edições do principal campeonato português de futebol. Um duelo que já criou inúmeras lembranças, ao longo do tempo.
Que recordações encontraríamos neste dérbi?
Desde logo, recordações começa por R. R de responsabilidade: para os lados do verde e branco, pouca gente, muito pouca gente, iria adivinhar que seriam líderes no primeiro dia de fevereiro de 2021.
A letra R de recuperação: para os lados do vermelho e branco, é altura de recuperar peças para os compromissos, após um surto evidente do coronavírus.
R também de renovação: Vertonghen, Otamendi e Jardel titulares, numa defesa renovada, com três defesas-centrais no onze inicial do filho de Deus.
Ah, o R de refúgio: esta seria a noite do regresso de Jorge Jesus a Alvalade, agora de novo com o perfil de rival, mas o treinador refugiou-se em casa. Podias voltar, estás perdoado. Esquece o passado.
E um último R, de receio: se o Benfica perder esta partida, ficará a nove pontos do adversário e líder. E ainda há o outro “grande” pelo meio. Fica difícil… Mas há gente que sonha. E é bom sonhar.
Jardel também sonha com a fase da sua carreira em que não se lesiona. Não é esta a fase. O jogo tinha começado há pouco tempo e o brasileiro saiu por causa de um problema muscular.
Problema estava a ser Tiago Tomás, para os visitantes. O jovenzinho, no meio dos experientes Otamendi e Vertonghen, não teve medo dos adversários. Sobretudo do argentino, que enfrentou bem de perto. E quase marcou, mais tarde.
Mais Sporting, mais sobressaltos numa defesa benfiquista inquieta (que novidade nesta temporada).
Foi assim a primeira parte. E, muito perto do descanso, Neto deveria ter feito mais e inaugurado o marcador.
Podia ser um alento para um encontro que ficou longe do grande espetáculo que se queria, ao longo dos primeiros 45 minutos.
Quando os jogadores regressaram ao relvado para a segunda parte, pensou-se (ou eu pensei, se calhar fui só eu) que Rafa não iria voltar. O avançado do Benfica já tinha estado mal, fisicamente, nos instantes finais do primeiro tempo. Mas lá estava ele, quase a coxear. Custava-lhe correr, doía alguma coisa, via-se. Mas um português arranja sempre força nas pernas!
Pareceu também que o Benfica tinha mais força nas pernas, no recomeço do dérbi. Mais vermelho, no início, mas boa reação verde logo a seguir. Nos primeiros minutos assistiram-se a situações de perigo mas, até ao final, remates à baliza…quantos? Quando os remates escasseiam, é provável que os golos não apareçam.
É provável. Mas não é certo: minuto 92′, Matheus Nunes colocou a bola lá dentro. Foi só a segunda vez que o jovem brasileiro marcou pela equipa principal do Sporting. Que bom momento para voltar a acertar. E que bela assistência de Vlachodimos. O grego que é alemão é um dos melhores elementos da sua equipa, mas nestas coisas de sair da baliza e agir nas alturas… É a segunda tragédia grega para o Benfica nos últimos tempos, depois da que foi protagonizada pelo tal Abel que agora é campeão na América.
Que festa no banco do Sporting. Ruben Amorim começou a correr, aos saltos! Quer lá saber do seu passado marcante no Benfica e da sua relação com o treinador que estava no outro lado… Ai não, não estava.
O Sporting ganhou ao Benfica em casa! Há quanto tempo isto não acontecia no campeonato? Há uma década, ou perto disso.
Bem, há outro registo que o Sporting não alcança há muito mais do que uma década. Há quase duas, na verdade. Mas se as coisas continuam assim nos próximos meses… A comitiva verde e branca começa a ficar convencida de há linda luz ali à espera.
No outro lado da Segunda Circular, estar a nove pontos da liderança…
Mas pronto, há muita gente que sonha.