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Nova tecnologia “ilumina” bactérias em feridas para uma melhor prevenção de infeções

Estima-se que cerca de 1% a 2 % dos portugueses sofrem de feridas crónicas — aquelas que não cicatrizam ao fim de alguns meses.

De acordo com o Eureka alert, quase todas as feridas contém bactérias que, senão forem detetadas e removidas, podem conduzir a infeções graves e às complicações daí resultantes, incluindo a amputação de um membro.

Isto é especialmente verdade para os doente com úlceras do pé diabtético (feridas abertas) que afetam um terço das pessoas com diabetes.

Quando os profissionais de saúde desbridam, ou limpam, uma ferida, removem o máximo de bactérias possível. No entanto, enfrentam uma limitação fundamental — nem todas as bactérias podem ser vistas pelo olho humano, e algumas podem passar despercebidas durante o desbridamento.

Uma nova investigação da Keck Medicine of USC publicada na revista Advances in Wound Care, sugere que pode existir um método mais eficaz para detetar bactérias durante o desbridamento de feridas.

A imagiologia por autofluorescência (AF) em que um dispositivo portátil “ilumina” bactérias anteriormente invisíveis ao olho humano, utiliza luz violeta para iluminar as moléculas nas paredes celulares de qualquer bactéria.

Diferentes tipos de bactérias adquirem cores diferentes, permitindo aos profissionais de saúde determinar imediatamente a quantidade e os tipos de bactérias presentes na ferida.

“Esperamos que esta nova tecnologia possa ajudar os cirurgiões a melhorar a sua precisão na deteção e consequente remoção de bactérias das feridas e, por conseguinte, a melhorar os resultados dos doentes, em especial os que sofrem de feridas do pé diabético”, afirmou David G. Armstrong, DPM, PhD, cirurgião podologista e especialista em preservação de membros da Keck Medicine e autor sénior do estudo. “A deteção precoce e a remoção de bactérias de uma ferida são vitais para prevenir amputações evitáveis”.

A investigação — uma revisão da literatura de 25 estudos que examinam a eficácia da imagiologia AF no tratamento de doentes diabéticos com úlceras nos pés — revela que a imagiologia AF pode identificar bactérias nas feridas em cerca de 9 em cada 10 doentes que as avaliações clínicas tradicionais não detetam.

Tradicionalmente, os profissionais de saúde desbridam as feridas e, em seguida, enviam amostras de tecido para o laboratório para identificar tipos específicos de bactérias presentes na ferida e determinar o melhor protocolo de tratamento com base nesses resultados, como iniciar o paciente com antibióticos ou fornecer um tipo especial de curativo para a ferida.

Este processo pode demorar dias — período durante o qual se pode instalar uma infeção —, de acordo com Armstrong.

Com as imagens de AF, os médicos podem tomar decisões médicas durante o desbridamento da ferida, em vez de esperar pelos resultados do laboratório para iniciar o tratamento.

Outra vantagem da tecnologia é que, se as bactérias forem detetadas precocemente, o doente pode evitar a prescrição de antibióticos, o que no tratamento de feridas pode ser prolongado, evitando assim uma possível resistência aos antibióticos.

“Esta intervenção em tempo real pode permitir um tratamento mais rápido e mais eficaz das feridas”, afirma Armstrong.

Os médicos da Keck Medicine já estão a utilizar a tecnologia para tratar com êxito doentes com feridas crónicas, incluindo úlceras do pé diabético.

“Aguardo com expetativa mais investigação nesta área, pois esperamos ver a imagiologia AF tornar-se o padrão de tratamento para o tratamento de feridas num futuro próximo”, afirmou Armstrong.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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