No Brasil, os “velhos” goleadores estão em destaque (e na Europa, ainda dão cartas)

Pedro Souza / Atlético

O ex-portista Hulk regressou ao Brasil para representar o Atlético Mineiro

Os goleadores de quase metade das equipas brasileiras que disputam a Copa Libertadores e a Sul-Americana têm mais de 30 anos. Aos olhos do futebol podem ser “velhos”, mas preenchem o vazio dos jovens que partem para a Europa — e ainda fazem balançar as redes como se estivessem na adolescência.

Seis das catorze equipas brasileiras que participam numa das competições sul-americanas de clubes têm um ‘veterano’ como maior goleador, que em alguns casos estão até a melhorar os seus registos no início das competições nacionais, como a Copa do Brasil e os campeonatos estaduais.

Fred, o mais velho, de 37 anos, é a referência do Fluminense. Recordado pelo péssimo desempenho que teve no Campeonato do Mundo de 2014, o ex-jogador do Lyon é o melhor marcador da primeira divisão brasileira, com 403 golos. Esta época vai com oito golos marcados.

“É algo grandioso na vida de qualquer atleta, com uma camisola tão pesada como a do Fluminense. Então fico muito feliz por alcançar esta marca e estar a fazer golos na Libertadores”, disse Fred a 28 de abril, após marcar dois golos no jogo com o colombiano Santa Fé, na Copa Libertadores — tornando-se o segundo maior goleador da história do tricolor das Laranjeiras, com 185 golos.

Atrás de Fred está Diego Souza, de 35 anos, o camisola 9 do Grêmio. O ex-jogador do Benfica marcou 12 golos em onze jogos, número que lhe permite dividir a artilharia do início da temporada brasileira com o atacante da Chapecoense Pedro Henrique Perotti, de 23 anos.

Depois de 16 anos a jogar na Europa e na Ásia, o ex-portista Hulk, de 34 anos, voltou a casa em janeiro, e desde março, altura em que se estreou no Atlético Mineiro, já marcou seis golos em doze jogos. “Quando o coletivo começa a correr bem, o individual de cada jogador destaca-se”, garantiu o goleador ao programa Globo Esporte.

Nível mais alto

O ex-internacional brasileiro é seguido por Ytalo, de 33 anos, do Red Bull Bragantino, com cinco golos; Gilberto, de 31 anos, do Bahia, com nove, e Thiago Galhardo, com 31 anos, do Internacional de Porto Alegre, com sete.

Com a exceção de Galhardo, que jogou no Albirex Niigata, do Japão, todos estes “velhos” goleadores atuaram na Europa, com maior ou menor grau de êxito.

Das seis equipas que não disputam uma competição internacional, só há um ‘matador’ com mais de 30 anos: o ex-jogador do Sporting de Braga Elton, de 35 anos, que com seis golos marcados é o goleador do recém-promovido Cuiabá.

“São jogadores com um nível acima do que encontramos no Brasil, mas não correspondem às expectativas do que é jogar na Europa, que é o futebol de elite”, diz à AFP Victor Figolos, editor do portal de esporte Ludopédio.

O especialista explica que o mercado brasileiro tem espaço para jogadores com mais de 30 anos porque os jovens promissores partem para o Velho Continente muito cedo e os clubes precisam de preencher as “lacunas” que ainda restam nos seus plantéis.

“Estes veteranos acabam por ter um protagonismo maior justamente pela experiência que  têm”, acrescenta Figolos.

Outro fator que explica esta tendência é a fuga de talentos da liga chinesa, que tinha seduzido grandes estrelas com salários milionários. Mas a crise económica na China, agravada pela pandemia e pela imposição de um teto salarial, ajudou a estes regressos, como Hulk, Miranda e Eder (os dois últimos, recentes contratações do São Paulo).

Também na Europa, a “velhice” chegou a alguns ‘matadores’, como Zlatan Ibrahimović, de 39 anos, Cristiano Ronaldo, com 36, Edinson Cavani, com 34, Luis Suárez, de 34, Lionel Messi, com 33 anos, Karim Benzema, 33, e Robert Lewandowski, com 32 — goleadores que mantêm a mesma pontaria que tinham quando eram jovens.

Estes astros têm conseguido manter um patamar elevado nas ligas mais competitivas do mundo, e esse será o principal desafio dos ‘veteranos’ brasileiros: prolongar a sequência positiva até ao final da temporada.

Não importa a idade, é uma questão de mentalidade“, disse Cristiano Ronaldo, que tem continua a bater recordes de golos marcados…e parece apostado em bater também recordes de longevidade a jogar ao mais alto nível.

ZAP // AFP

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