Vereadora em Roma, Rachele Mussolini vai trocar o partido Irmãos de Itália pelo Força Itália, de centro-direita, “mais alinhado” com as suas “sensibilidades moderadas”. Polémica sobre género nos Jogos terá pesado na decisão.
Uma das netas do ditador fascista italiano Benito Mussolini anunciou nesta quinta-feira que vai deixar o partido da primeira-ministra Giorgia Meloni por este ser demasiado à direita e por discordar da visão do partido sobre minorias.
Rachele Mussolini, a vereadora mais votada em Roma nas últimas eleições, em 2021, disse que vai trocar o Irmãos de Itália pelo Força Itália, de centro-direita, mas que integra a coligação de Meloni.
“Chegou a hora de virar a página e juntar-me a um partido que sinto estar mais alinhado com as minhas sensibilidades moderadas e centristas”, disse Rachele, de 50 anos, à agência de notícias italiana Ansa.
O Irmãos de Itália tem raízes no Movimento Social Italiano (MSI), herdeiro do fascista que governou Itália durante a Segunda Guerra Mundial.
Desde que se tornou primeira-ministra, em 2022, Meloni tem tentado apresentar o seu partido como uma agremiação conservadora não extremista — algo que, segundo críticos, não condiz com as posições intransigentes do partido em relação a temas como imigração, aborto, famílias homossexuais e barrigas de aluguer.
O Força Itália, fundado por Silvio Berlusconi, também se apresenta como defensor de valores tradicionais cristãos, mas é visto como mais liberal em relação aos direitos civis.
Discordância sobre pugilista olímpica
Em agosto, Rachele discordou da postura de Meloni no caso da pugilista olímpica Imane Khelif, da Argélia, que foi falsamente acusada por detratores de ser homem após derrotar uma atleta italiana no ringue.
Meloni declarou, na altura, que o combate não tinha sido travado entre iguais porque Khelif teria sido reprovada num teste de género no campeonato mundial de boxe de 2023.
“Até prova em contrário, Imane Khelif é uma mulher. E foi alvo de uma caça às bruxas indigna”, afirmou Mussolini.
Meia-irmã é defensora dos direitos LGBTQ+
Também neta de Mussolini, meia-irmã de Rachele e ex-correligionária de Meloni, a eurodeputada Alessandra Mussolini, de 61 anos, passou de homofóbica convicta a fervorosa ativista pelos direitos LGBTQ+, repelindo na televisão e nas redes sociais os ataques do governo de Meloni a este grupo.
Alessandra e Meloni chegaram a militar juntas no MSI, antes de Alessandra migrar para o Força Itália de Berlusconi, em 2008, onde continua até hoje.
Num programa de televisão italiano em 2006, Alessandra debatia com Vladimir Luxuria, a primeira política trans do país, quando proferiu a frase: “Mais vale um fascista do que um maricas”. No passado, também se opôs fortemente à adoção de crianças por casais do mesmo sexo.
Nos últimos anos, no entanto, Alessandra abandonou estes discursos e a defesa beligerante do legado do avô para se dedicar à defesa da comunidade LGBTQ+.
“Chega de sexo e sexualidade, cada um é tão fluido quanto quiser“, afirmou em 2022. Em 2023, ao discutir com um jornalista sobre a marcha LGBTQ+ num programa de entrevistas, questionou: “O que é que perdem com um pouco de música, um pouco de orgulho, um pouco de liberdade? Fechem-se em casa e peguem numa bíblia.”
ZAP // DW