A última expedição de mergulhadores ao navio grego Mentor, que naufragou perto da ilha Citera em 1802, recuperou várias peças do cordame, moedas, a sola de couro de um sapato, uma fivela de metal, uma ficha para jogar cartas, duas peças de xadrez, fragmentos de utensílios de cozinha e outros objetos aparentemente mundanos.
Quando afundou, o navio levava esculturas de mármore lascadas do Partenon, em Atenas, mais tarde danificado, conhecido como “Mármores de Elgin” ou “Mármores do Partenon”. Estas esculturas – que retratam deuses, heróis e animais gregos – estão agora em exibição na Museu Britânico, em Londres.
Os pequenos objetos recuperados do naufrágio revelam aspetos intrigantes da vida das pessoas a bordo do navio quando afundou, segundo disse, em declarações ao LiveScience, o arqueólogo marinho Dimitris Kourkoumelis, do departamento de Antiguidades Subaquáticas do Ministério da Cultura e Desporto grego.
“O objetivo é entender como as pessoas viviam e como era a vida a bordo, não apenas para os passageiros, mas também para a tripulação”, disse Kourkoumelis. “Encontrámos moedas de ouro de Utrecht, na Holanda, bem como de Espanha, e também moedas do Império Otomano – por isso havia realmente um grupo cosmopolita no Mentor.”
Kourkoumelis liderou expedições de mergulho aos destroços do Mentor todos os verões desde 2009, depois que o Governo grego promulgou uma legislação para proteger o naufrágio e ordenou formalmente que arqueólogos o escavassem.
O Mentor, um brigue construído nos Estados Unidos, pertencia ao diplomata britânico Thomas Bruce, um nobre escocês com o título de sétimo conde de Elgin.
Segundo Kourkoumelis, a construção do Mentor é muito diferente da de navios semelhantes construídos no Mediterrâneo. “Os navios americanos foram construídos para viajar em mar aberto e, por isso, eram muito mais fortes – é muito interessante trabalhar num navio como este”, disse.
O navio de madeira está agora a apodrecer após mais de 200 anos sob as ondas – e apenas mais alguns anos de escavações serão possíveis.
O naufrágio rendeu vários pequenos objetos ao longo dos anos, incluindo joias de ouro, moedas antigas e cerâmica grega que provavelmente vieram de coleções particulares de alguns dos passageiros a bordo quando afundou.
As descobertas mais recentes no ano passado incluíam duas peças de xadrez de madeira – outras seis peças do mesmo conjunto foram encontradas em anos anteriores – e uma ficha de metal ou moeda que provavelmente foi usada num jogo de cartas.
Os arqueólogos planeiam examinar cientificamente todos os objetos, muitos dos quais serão exibidos no Museu da Acrópole em Atenas. O museu já exibe cerca de metade das esculturas do Partenon que ainda restam.
Disputa pelas estátuas
Elgin, como era conhecido Thomas Bruce, usou o navio para transportar para Inglaterra as antiguidades que colheu enquanto vivia em Constantinopla como embaixador da Grã-Bretanha no Império Otomano.
Embora o navio tenha chegado a Citera, onde os seus passageiros e tripulantes escalaram as rochas, o Mentor afundou a cerca de 20 metros de água do mar.
O secretário de Elgin, William Hamilton, passou quase dois anos em Citera, supervisionando o resgate das esculturas por mergulhadores que foram pagos para recuperá-las dos destroços sem nenhum equipamento de mergulho.
As esculturas foram enviadas para a Inglaterra e Elgin vendeu-as ao Museu Britânico em 1816.
Elgin afirmou que pagou pelas esculturas e que obteve um decreto do Governo otomano para levá-las. Porém, nunca for encontrada nenhuma evidência do decret, de acordo com o Comité Britânico para a Reunificação dos Mármores do Partenon, uma organização não-governamental.
Quando a Grécia recuperou a sua independência dos otomanos em 1832, iniciou uma série de projetos para recuperar arte saqueada e os mármores de Elgin estavam no topo da lista.
Desde então, todos os sucessivos Governos gregos exigiram que as esculturas fossem devolvidas. Até agora, contudo, o Museu Britânico recusou-se, embora se tenha oferecido para emprestá-los temporariamente.