Uma (grande) estreia: astrónomos acreditam ter testemunhado o nascimento de um buraco negro

ESO/L. Calçada

Conceito artístico do buraco negro a “roubar hidrogénio” à sua estrela companheira

Astrónomos afirmam ter testemunhado o nascimento de um buraco negro pela primeira vez. O fenómeno parece estar ligado à morte de uma estrela.

Tudo começa com a descoberta de um objeto extremamente brilhante por um astrónomo amador sul-africano. Berto Monard encontrou SN 2022jli, assim batizado, no braço espiral de uma galáxia chamada NGC 157, a cerca de 76 milhões de anos-luz de distância.

Como suspeitavam de que se tratava de uma supernova, os cientistas rapidamente se apressaram a analisar o misterioso objeto. Uma supernova – extremamente difícil de estudar porque é impossível de prever – é a explosão violenta de uma estrela quando morre.

As estrelas colapsam sob a sua própria gravidade e a explosão resultante pode, por vezes, ser imensamente brilhante para, despois, voltar a escurecer.

Os investigadores acreditam que, logo a seguir a este fenómeno gigantesco, são produzidos objetos super densos como buracos negros ou estrelas de neutrões, ainda que, até ao momento, não tenham conseguido obter provas diretas desta associação.

Em vez de desaparecer gradualmente, SN 2022jli apresentou um comportamento bastante incomum. A princípio muito brilhante, começou a escurecer lentamente antes de voltar a brilhar um mês depois da descoberta. Seguiram-se então estranhas ondulações de 12 em 12 dias, durante os 200 dias subsquentes.

“Foi a primeira vez que vimos oscilações periódicas repetidas, ao longo de muitos ciclos, detetadas na curva de luz de uma supernova”, referiu Thomas Moore, da Queen’s University Belfast, citado pela Cosmos.

O estudo desta supernova foi publicado, no ano passado, no Astrophysical Journal.

Os cientistas acreditam que uma segunda estrela – que terá sobrevivido à explosão da supernova – pode ter sido a responsável por revelar o objeto compacto.

No fundo, a teoria da equipa sugere que o buraco negro ou a estrela de neutrões terá roubado hidrogénio da atmosfera “inchada” da sua companheira, um fenómeno conhecido como acreção que liberta muita energia em ondas.

“As propriedades sem precedentes da SN 2022jli dizem que o que quer que aconteça no sistema deve ser um fenómeno raro, o que pode ser explicado pela raridade de um sistema binário ligado que sobrevive a uma explosão de supernova”, escreveram os investigadores no artigo científico, recentemente publicado na Nature.

“A SN 2022jli estabelece uma ligação direta entre a explosão de uma supernova e a formação de um objeto compacto.”

ZAP //

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