As guerras dos Estados Unidos (EUA) prolongam-se por mais tempo com Presidentes que apresentam níveis mais altos de narcisismo, revelou uma nova pesquisa, na qual foram analisados 19 chefes de Estado, que governaram entre 1897 e 2009.
Os oito líderes que tiveram uma pontuação alta relativamente ao narcisismo passaram em média 613 dias em guerra, em comparação com 136 dias que passaram os 11 Presidentes com uma pontuação mais baixa, revelou o estudo, publicado recentemente no Journal of Conflict Resolution.
A conexão entre o narcisismo e a duração da guerra manteve-se mesmo tendo em consideração uma variedade de outros fatores que podem influenciar a duração dos conflitos, disse o autor do estudo, John P. Harden.
De acordo com o investigador, nem todos os chefes de Estado norte-americanos sacrificam a sua imagem pelo bem do país. “Presidentes mais narcisistas tendem a sair das guerras apenas se puderem dizer que as venceram, prolongado-as para encontrar uma maneira de declarar algum tipo de vitória”, referiu.
“Querem parecer heróicos, fortes e competentes – mesmo que isso signifique manter uma guerra além do razoável”, comentou.
Em junho de 2021, Harden já havia publicado no International Studies Quarterly uma primeira análise ao tema, na qual constatou que os Presidentes mais narcisistas preferiam iniciar conflitos com outros países de grande potência, sem procurar apoio de aliados.
Para desenvolver este estudo, Harden usou um conjunto de dados compilados por três especialistas. Estes basearam o seu trabalho no conhecimento de historiadores presidenciais e outros especialistas. Cada um desses investigadores respondeu a um questionário com mais de 200 perguntas.
Harden analisou cinco facetas que se relacionam com o narcisismo: altos níveis de assertividade e busca por emoção, assim como baixos níveis de modéstia, de obediência e de franqueza.
Com base nos resultados, Lyndon Johnson foi o Presidente que obteve a maior pontuação para o narcisismo, seguido por Teddy Roosevelt e Richard Nixon. O chefe de Estado com a pontuação mais baixa foi William McKinley, seguido por William Howard Taft e Calvin Coolidge.
O investigador utilizou igualmente o banco de dados Correlates of War, que reconhece como guerra os conflitos entre dois ou mais países nos quais há pelo menos mil mortes no período de um ano. Seguindo esta métrica, os EUA estiveram envolvidos em 11 guerras no período estudado.
Os resultados mostraram que os Presidentes com pontuação baixa em narcisismo, como McKinley e Dwight Eisenhower, “separaram os seus interesses pessoais dos interesses do Estado, viram a guerra como último recurso e buscaram saídas rápidas”, referiu Harden.
Já Roosevelt e Nixon “tiveram dificuldade em separar as suas próprias necessidades dos interesses do Estado” e envolveram-se em longas guerras, continuou. Embora sejam várias as circunstâncias que influnciam a duração dos conflitos, este estudo mostrou que o narcisismo dos Presidentes é um fator-chave.
Utilizando outro modelo de análise – que cruza informação sobre a influência do terreno no qual a guerra é travada e o seu tempo de duração, bem como as geurras inciadas ou “herdadas” e o equilíbrio de poder entre os combatentes – Harden confirmou que o narcisismo pode prolongar as guerras.
“Descobri que a maneira tradicional como os cientistas políticos olham para a dinâmica da guerra não capta a história completa”, indicou o autor.
Mas o foco nos interesses pessoais não é o único fator. Os narcisistas, explicou Harden, têm expectativas mais altas devido à sua agressividade e crença nas próprias habilidades – o que os leva a adotar, por vezes, estratégias ineficazes. São também estes que têm maior dificuldade em mudar de estratégia, apesar dos fracassos.
“Presidentes narcisistas passam mais tempo preocupados com a sua imagem. Essas motivações, especialmente o desejo de proteger a sua imagem, fazem com que arrastem as guerras por mais tempo do que o necessário”, frisou.