Os espiões não podem trabalhar em casa. E isso está a tornar a vida difícil aos recrutadores de agências de espionagem pele mundo fora.
As agências de espionagem um pouco por todo o lado estão a enfrentar desafios que até há pouco tempo eram imponderáveis.
Os candidatos a espiões tiverem sempre que ultrapassar dificuldades próprias da vida especial que os espera no novo emprego — das habilitações técnicas que lhes são pedidas às capacidades físicas que têm que mostrar.
Mas nos últimos anos, preocupações mais mundanas entraram em jogo — fazendo com que muitos dos potenciais agentes de intelligence, por esta altura recrutados entre os jovens da Geração Z, pensem duas vezes antes de avançar para a excitante vida de um 00.
Por exemplo, os espiões não podem trabalhar a partir de casa. E quando vão para o local de trabalho, num qualquer escritório secreto ou sob uma insuspeita montanha, não podem levar o seu telemóvel pessoal. Nem usar WhatsApp.
Recentemente, Bruno Kahl, diretor do Serviço Federal de Inteligência (BND), o serviço secreto alemão, revelou num livestream os desafios que a sua agência enfrenta ao recrutar novos agentes.
Parecendo preocupações mundanas, explica o diretor da agência alemã, estas limitações são vistas como importantes pelos jovens potenciais candidatos a espiões, numa era que valoriza a flexibilidade no trabalho.
Kahl admite que o trabalho remoto é praticamente inviável para o BND, devido a questões de segurança, e que as regras da agência contra as utilização de telemóveis pessoais no trabalho, para a Geração Z, são… complicada.
Além disso, o recrutamento da agência alemã tem sido particularmente difícil em áreas especializadas como ciência e tecnologia e cibersegurança — nas quais enfrenta pesada concorrência de empregadores que pagam melhor. E que permitem trabalho remoto.
“Há apenas 3 anos, antes da pandemia, podíamos sempre contar com umas 10 mil candidaturas por ano, e podíamos escolher os melhores dos melhores — o que mesmo assim não era suficiente”, diz Kahl.
Mas os desafios enfrentados pelo BND para reforçar as suas fileiras com novos espiões reflete uma tendência global nas agências de inteligência à medida que se adaptam às mudanças nas exigências da força de trabalho pós-pandemia, reporta o The Washington Post.
No Reino Unido, por exemplo, as icónicas agências de inteligência MI5, MI6 e GCHQ adaptaram e relaxaram as suas regras de recrutamento e estão a promover políticas de trabalho flexível para atrair talento.
Da mesma forma, a agência de espionagem norte-americana CIA, admitindo que as preocupações de segurança limitam as oportunidades de trabalho remoto, está a explorar outras formas de oferecer flexibilidade no serviço.
Entre outras medidas, a agência norte-americana tem usado de forma criativa as redes sociais para recrutamento, promovido estágios e aumentado a sua participação em feiras de emprego.
O apelo do trabalho remoto no seio da Geração Z é incontornável. Segundo uma sondagem da YouGov realizada em 2021, quase metade dos trabalhadores na Alemanha e dois terços nos Estados Unidos querem trabalhar a partir de casa — pelo menos a tempo parcial.
E esta mudança nas preferências do jovens que estão agora à procura de emprego é um desafio que obriga as agências de inteligência de todo o mundo a encontrar forma de se adaptar — se quiserem atrair a sua próxima geração de espiões.