Uma equipa internacional liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço conseguiu determinar com precisão a massa de dois planetas fora do Sistema Solar, concluindo que um deles contém entre 9% a 50% de água, tratando-se de um “mundo aquático”.
Segundo uma nota do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, IA, a equipa, que envolve investigadores de 11 países e tem como primeira autora Susana Barros, determinou a massa de dois exoplanetas que giram à volta da estrela HD 106315, concluindo que o menor – o HD 106315 b – tem uma massa 12,6 vezes maior que a da Terra, enquanto que o maior – o HD 106315 c – tem uma massa 15,2 vezes maior.
Os valores obtidos demonstram que “o planeta ‘b'” tem um espesso envelope de hidrogénio-hélio, mas uma investigação detalhada ao planeta “b”, que recorreu a modelos de interiores planetários, indica até 50% de material rochoso, e entre 9 e 50% de água, ou seja, este é um mundo aquático”, refere o comunicado.
Estas conclusões foram conseguidas através de dados provenientes de um programa de observação com o espetrógrafo (instrumento que decompõe a luz nas suas várias cores) HARPS, do Observatório Europeu do Sul, ou ESO.
A equipa verificou igualmente que o planeta HD 106315 b tem um período de 9,5 dias e um diâmetro 2,44 vezes maior que o da Terra, enquanto o HD 106315 c tem um período de 21 dias e um diâmetro 4,35 vezes maior.
Estes dois planetas foram detetados previamente pelo satélite Kepler, da NASA, através do método de trânsito, que consiste na medição da diminuição da luz de uma estrela, provocada pela passagem de um exoplaneta à sua frente – algo semelhante a um micro-eclipse.
“Através de um trânsito é possível determinar apenas o raio do planeta“, lê-se no comunicado. De acordo com o IA, para verificar algumas características do planeta (se é gasoso ou rochoso, ou se tem atmosfera), os investigadores precisam de saber a sua massa, informação obtida a partir do método das velocidades radiais.
Esse método, continua a nota informativa, deteta exoplanetas medindo pequenas variações na velocidade (radial) da estrela, originadas pelo movimento que a órbita desses planetas imprime na estrela.
Os dois métodos em conjunto permitem determinar a massa real dos planetas, o que foi conseguido neste estudo, que deu origem ao artigo “Precise masses for the transiting planetary system HD 106315 with HARPS“, publicado este mês na revista científica Astronomy & Astrophysics.
De acordo com a astrónoma Susana Barros, investigadora da Universidade do Porto e a primeira autora do artigo, o sistema planetário descrito neste estudo demonstra a diversidade da composição destes planetas.
“Como a estrela que estes planetas transitam é bastante brilhante, será ainda possível estudar as suas atmosferas. Com instrumentação atual é possível observar a atmosfera do planeta c, mas para o planeta b será necessário esperar por instrumentos como o Telescópio Espacial James Webb (JWST), que será lançado em 2019″, explicou a cientista.
Estudar atmosferas com instrumentos como o JWST, da NASA, ou o Extremely Large Telescope (ELT), do ESO, irá permitir uma melhor compreensão acerca da composição do HD 106315 b, já que o planeta está no limite entre os planetas rochosos e os planetas gasosos, acrescenta o comunicado.
ZAP // Lusa
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