Um novo estudo apresentou pela primeira vez uma comparação empírica entre ‘serial killers’ masculinos e femininos, concluindo que a maioria dessas mulheres provinham de famílias de classe média ou alta e eram formadas em faculdades, enquanto a maioria dos homens tinha menos escolaridade e era de classe baixa.
Neste estudo, publicado no Evolutionary Behavioral Sciences em janeiro de 2019, os investigadores estabeleceram uma relação entre a história humana de caçadores-coletores e a manifestação das diferenças entre ‘serial killers’ masculinos e femininos, indica um artigo do New Atlas divulgado na sexta-feira.
Embora raros, assassinos em série femininos também existem. Apesar da história potencialmente falsa do famoso especialista em perfis do FBI, Roy Hazelwood, na qual alegava “não existirem mulheres assassinas em série”, acredita-se que cerca de 15% de todos os ‘serial killers’ sejam do género feminino.
De fato, um estudo de 2011, publicado na SAGE, sugere que o primeiro ‘serial killer’ já narrado na história foi uma mulher chamada Locusta, uma assassina em série que vivia em Roma (Itália), há dois mil anos, famosa pela sua habilidade com venenos.
Marissa Harrison, professora de psicologia da Pennsylvania State University, nos Estados Unidos (EUA), uma das autoras do estudo, nunca considerou a pouca literatura que havia sobre as mulheres assassinas em série até que um curioso estudante de graduação a abordou, em 2014.
Desde essa altura, passou a documentar os meios, os motivos e as histórias das mulheres que foram assassinas em série nos últimos 200 anos, principalmente nos EUA.
No seu mais recente estudo, realizado em conjunto com o seus colegas Adam Jordan Gott e Susan Hughes, comparou especificamente os dados correspondentes de ‘serial killers’ femininos e masculinos e enquadrou essas diferenças através de uma perspetiva psicológica evolutiva.
“Historicamente, os homens caçavam animais como presas e as mulheres reuniam recursos próximos – grãos e plantas – como alimento”, explicou Marissa Harrison. “Como psicóloga evolucionista, fiquei a imaginar se alguma coisa que sobrou desses velhos papéis poderia afetar a maneira como os ‘serial killers’ masculinos e femininos escolhem as suas vítimas”.
Para este estudo, foram coletados dados de arquivo de 55 homens e 55 mulheres que mataram em série e cometeram crimes nos EUA entre 1856 e 2009. Os crimes de um ‘serial killer’ foram definidos como “homicídios premeditados e intencionais de três ou mais vítimas, com um período entre as mortes de, pelo menos, uma semana”.
As principais diferenças sexuais entre ‘serial killers’ masculinos e femininos estudados são “fascinantes”, indica o New Atlas. A maioria das mulheres assassinas em série provinham de famílias de classe média ou alta e eram formadas em faculdades, enquanto a maioria dos ‘serial killers’ masculinos tinha menos escolaridade e era de classe baixa.
O método de matar também diferia dramaticamente entre os dois géneros, com quase metade das mulheres a usar o envenenamento como método matar as suas vítimas, enquanto os homens preferiam asfixia ou tiro.
Mas talvez a maior diferença entre os dois grupos de assassinos em série esteja relacionado com as vítimas escolhidas: 90% das vítimas das assassinas femininas eram alguém familiar, enquanto os homens eram muito mais propensos a escolher desconhecidos como alvo.
Na verdade, 85% das vítimas dos assassinos em série eram pessoas desconhecidas, em comparação com menos de 15% no caso da assassinas. Além disso, 65% dos ‘serial killers’ masculinos perseguiram as suas vítimas antes do homicídio, enquanto apenas 3% das assassinas femininas faziam o mesmo.
“Na nossa amostra, houve duas ‘serial killers’ que tiveram um comportamento de perseguição durante os seus crimes”, indicou Marissa Harrison. “Curiosamente, os relatórios indicam que esses crimes em específico também envolviam homens”.
Embora a perspetiva dos caçadores-coletores sobre as diferenças entre ‘serial killers’ possa parecer um pouco simplista ou reducionista, a mesma oferece um quadro intrigante para ver muitas dessas distinções empíricas identificadas no estudo, indica o New Atlas.
Os investigadores observaram, por exemplo, que mulheres assassinas em série tinham três vezes mais hipóteses de serem motivadas por recompensas financeiras em comparação com os assassinos do sexo masculino. “De acordo com a hipótese do “coletor”, as assassinas em série pareciam reunir recursos como resultado das suas mortes”.
Por outro lado, os assassinos em série masculinos são 10 vezes mais propensos a ter uma motivação sexual que sustente os seus crimes. Os pesquisadores supõem que isso seja uma espécie de “forma aberrante pela busca de parceiros”.
É claro que matar o cônjuge certamente interfere na transmissão de genes, no entanto, os investigadores argumentam que essa tendência fundamental à predação sexual é uma caraterística evolucionista.
Marissa Harrison notou que esses perfis psicológicos não são prescritivos nem pretendem sugerir que uma pessoa nasce para cometer crimes de uma maneira específica, mas espera-se que estas conclusões possam ajudar os investigadores a utilizar melhor o tempo e os recursos na busca por criminosos.
“Evolução não significa que se está predeterminado a fazer certas coisas ou a agir de uma determinada forma”, disse. “Significa sim que é possível fazer previsões sobre o comportamento com base no passado evolutivo. Neste caso, acredito que esses comportamentos são reminiscentes de comportamentos ou atribuições específicas no ambiente ancestral”, concluiu a autora.