A história da mulher que fingiu ser homem para entrar numa sociedade de mágicos

Sophie Lloyd

34 anos após ser expulsa quando revelou ser mulher, Sophie Lloyd foi agora readmitida como membro do Magic Circle britânico.

Uma mulher que realizou a façanha de entrar para o Magic Circle, sociedade britânica de mágicos, está finalmente a tornar-se membro — 34 anos depois de ter sido expulsa.

Sophie Lloyd diz que se disfarçou de homem para enganar os examinadorses e conseguir entrar para a sociedade de elite em 1991, numa época em que as mulheres não tinham permissão para ser membros.

Quando o Magic Circle anunciou que permitiria a adesão de mulheres no fim daquele ano, Lloyd revelou o disfarce, levando a sociedade a expulsá-la na mesma reunião em que admitiu as primeiras integrantes do sexo feminino.

Após realizar uma busca pública para encontrá-la, o Magic Circle agora pediu desculpa a Lloyd — e entregou-lhe um certificado de membro na noite de quinta-feira.

Estou muito emocionada“, disse Lloyd ao programa de rádio Today, da BBC, mais cedo naquele dia.

No fim da década de 1980, Lloyd estudava numa escola de mímica em Londres, onde fez amizade com a mágica Jenny Winstanley.

“Jenny estava cada vez mais frustrada com o facto de as mulheres, inclusive ela, não poderem participar do Magic Circle”, contou Lloyd. “Então, ela teve a ideia de se infiltrar na sociedade fazendo com que eu me vestisse de homem. Ela não podia fazer isso sozinha, pois era muito conhecida.”

Foi uma empreitada colossal. Lloyd tinha trabalhado como assistente de Winstanley em espetáculos, mas não tinha feito mágia por conta própria, então teve que aprender.

Ela inventou uma nova identidade — Raymond Lloyd — e passou cerca de dois anos a estudar o personagem. Disfarçou-se usando uma peruca, fato e fazendo uma voz “rouca”. Também usava luvas para esconder as mãos femininas.

Não havia nada que ela pudesse fazer em relação à sua altura — 1,57 m — então, em vez disso, ela concebeu Raymond como um rapaz “de 18 anos, de aparência jovem”, com um pouco de “penugem” facial, disse ela à emissora canadiana CBC em 1991.

Lloyd contou ao programa Today que o seu personagem foi “totalmente convincente” e afirmou ainda que não teve problemas ao usar o fato, mas as luvas tornavam “muito difícil” fazer truques de ilusionismo.

Em março de 1991, Lloyd estava pronta para colocar à prova as suas habilidades. Em vez de ser examinada na sede do Magic Circle — o que Lloyd e Winstanley consideravam muito arriscado —, ela optou por convidar os examinadores da sociedade para uma apresentação de 20 minutos diante de 200 espectadores, num clube frequentado por homens da classe trabalhadora. Para disfarçar a voz, Lloyd disse que estava com laringite. Ela até ficou para beber com um dos examinadores após o espetáculo.

Uma semana depois, recebeu a notícia de que tinha sido admitida como membro do Magic Circle.

Durante meses, “Raymond Lloyd” fez espetáculos de magia e até socializou com outros membros do Magic Circle.

Mais tarde, quando Lloyd e Winstanley souberam que a sociedade começaria a aceitar mulheres como membro, elas decidiram confessar o que tinham feito, e Winstanley contou à sociedade por telefone.

Mas o Magic Circle não recebeu bem a notícia. A dupla recebeu uma carta a dizer que “Raymond” tinha sido expulso e, em outubro de 1991, na primeira reunião para admissão de mulheres na sociedade, Lloyd foi expulsa.

“Não conseguíamos entender o que estava a acontecer”, afirmou Lloyd.

Ela passou cerca de 10 anos a apresentar-se como mágica por todo o país, inclusive em espetáculos de combate ao bullying, antes de se mudar para a Espanha, onde se reformou cedo e se envolveu no resgate de animais. Winstanley chegou a administrar uma empresa de cerâmica em Norfolk, antes de morrer num acidente de carro em 2004.

O Magic Circle iniciou uma busca por Lloyd no ano passado.

“Achei que era importante o Magic Circle ser capaz de reconhecer Sophie como um modelo para as mulheres mágicas, assim como mostrar que agora somos uma sociedade completamente aberta”, declarou Laura London, a primeira presidente mulher do conselho da sociedade.

Lloyd só ficou a saber da busca por ela quando a sua irmã lhe enviou um link para uma entrevista. Inicialmente relutante em entrar na sociedade devido ao tempo que tinha passado, ela finalmente decidiu fazer isso para honrar o legado de Winstanley.

Atualmente, o Magic Circle ainda é fortemente dominado por homens. A sociedade tem cerca de 1,7 mil membros, dos quais apenas 5% são mulheres.

Lloyd recebeu o seu novo certificado de membro na noite de quinta-feira durante um evento na sede do Magic Circle, em Londres. Winstanley também foi homenageada na ocasião.

Isto é para a Jenny, na verdade“, disse Lloyd. “Acho que Jenny teria adorado isso”.

ZAP // BBC

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