Nem Kamala nem Trump. Muçulmanos em estados decisivos apostam numa candidata surpresa

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Jill Stein é a candidata à presidência norte-americana pelo Partido Verde

Em três estados decisivos, a candidata dos Verdes, Jill Stein, é a preferida dos eleitores muçulmanos, o que pode influenciar os resultados das eleições.

O apoio incondicional dos Estados Unidos a Israel está mesmo a fazer mossa nas sondagens para as eleições presidenciais e pode ser um fator decisivo.

De acordo com um relatório do Conselho das Relações Americanas e Islâmicas (CAIR), a maior organização de defesa dos direitos dos muçulmanos nos Estados Unidos, a candidata dos Verdes, Jill Stein, surge na frente com os muçulmanos nos estados-chave do Arizona (35%), do Wisconsin (44%) e do Michigan (40%).

O caso do Michigan é particularmente importante, dado ser o estado com a maior comunidade muçulmana em todo o país e onde este grupo demográfico pode ser decisivo. Recorde-se que Trump venceu o Michigan em 2016 por uma margem de apenas 0,23% e que Biden o recuperou em 2020 com uma margem de 2,78%.

Kamala Harris está na frente com os muçulmanos na Geórgia (43%) e na Pensilvânia (37%). Já Donald Trump é o predileto no Nevada (27%), com Harris a surgir logo atrás (26%).

No panorama global, 29,4% dos muçulmanos norte-americanos apoiam Kamala Harris, mas Jill Stein surge em empate técnico com a candidata Democrata, conseguindo 29,1% dos votos. Donald Trump fica-se bastante atrás, com apenas 11,2% de apoio.

Este grande apoio a Stein será baseado em grande parte no facto de os muçulmanos não se reverem na política externa nem dos Democratas nem dos Republicanos, especialmente no rescaldo na escalada de violência na Faixa de Gaza no último ano.

Do lado dos Democratas, Joe Biden tem continuado a enviar armamento e dinheiro para Israel e até voltou atrás em alguns dos seus ultimatos. O chefe de Estado ameaçou deixar de dar armas ao Estado judaico caso Israel atacasse Rafah, mas a Casa Branca rapidamente voltou atrás quando esse ataque aconteceu, mesmo havendo até alegações de que os israelitas usaram armas norte-americanas.

O Arab American Institute, um grupo de ativismo, realizou uma sondagem em novembro que revelou que o apoio dos árabes americanos aos Democratas caiu de 59% em 2020 para apenas 17%.

Enquanto vice de Biden, Kamala Harris está ligada de perto às políticas do Presidente. No entanto, a candidata aparenta estar a tentar cativar os eleitores pró-Palestina com uma defesa pública de um cessar-fogo e de uma solução de dois Estados. Harris também não assistiu ao discurso de Benjamin Netanyahu no Congresso norte-americano em Julho.

O Wall Street Journal revelou ainda que Kamala Harris está a estudar o afastamento de muitos dos responsáveis de política externa de Biden caso seja eleita, como o Secretário de Estado Antony Blinken, o Secretário da Defesa Lloyd Austin e o Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan.

A passagem de Donald Trump pela Casa Branca também não é um bom presságio para quem quer que os Estados Unidos sejam mais duros com Israel. Durante o seu mandato, Trump contribuiu para o aumento da tensão na região com a decisão de mudar a embaixada norte-americana de Tel Aviv para Jerusálem e de reconhecer os Montes Golã como território israelita.

Trump também nomeou o seu genro Jared Kushner para mediar o conflito e apresentar um plano de paz, apesar de o marido de Ivanka não ter qualquer experiência em negociações diplomáticas árabe-israelitas e de ter negócios e ligações a bancos israelitas, o que puseram em causa a sua imparcialidade.

A equipa de Kushner também incluía David Friedman, um advogado com laços estreitos com o movimento de colonos judeus nos territórios ocupados que Trump nomeou como embaixador dos EUA em Israel. Friedman questionou a necessidade de um Estado palestiniano e comparou os membros de um grupo judeu liberal crítico de Israel a colaboradores nazis.

A administração Trump também avançou com a redução do financiamento para refugiados palestinos e algumas das medidas do plano de Kushner foram criticadas por serem demasiado pró-Israel, abrindo a porta à anexação de grandes partes dos territórios ocupados e dando-lhe o controlo quase total de Jerusalém.

Recentemente, no debate contra Kamala Harris, Trump também atacou Kamala Harris pela direita, dizendo que Israel “deixará de existir em dois anos” caso a candidata Democrata vença as eleições.

Adriana Peixoto, ZAP //

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