Mosquitos geneticamente programados podem transformar completamente a guerra trava contra a malária no continente africano.
Já foi dito que a malária gera pobreza e a pobreza gera malária. Esta é a realidade em muitas partes da África Subsariana, onde após décadas de iniciativas de controlo ainda havia cerca de 384.000 mortes e 188 milhões de casos de malária em 2019.
A prevenção da malária em países africanos depende muito do uso de mosquiteiros tratados com inseticida e da pulverização doméstica. Esses esforços, juntamente com um tratamento eficaz, reduziram muito o fardo da malária em todo o continente. Mas o progresso estagnou por volta de 2015. Ultimamente, alguns países têm relatado aumentos de casos.
Um dos motivos é a resistência aos inseticidas. Este é o resultado do uso prolongado de produtos químicos na saúde pública e na agricultura. Novos inseticidas estão a ser desenvolvidos, mas também podem tornar-se ineficazes — e são caros.
O controlo da malária deve, portanto, deixar de depender demasiado de inseticidas e passar para opções mais sustentáveis.
Em 2016, um painel da Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que mesmo com o melhor uso das abordagens atuais, ainda haveria 11 milhões de casos de malária em 2050. O que é necessário são estratégias integradas de longo prazo para complementar os métodos atuais.
Isto pode incluir gestão ambiental em grande escala para reduzir a procriação de Anopheles, lares à prova de mosquitos, sistemas de saúde mais fortes e educação pública com foco na prevenção de doenças.
Felizmente, novas tecnologias também estão a ser desenvolvidas, o que poderia complementar essas estratégias com menor custo e menor esforço.
Um exemplo particularmente interessante é a libertação de mosquitos geneticamente programados, a que os cientistas chamam de “mosquitos protetores”. Ao acasalar com mosquitos selvagens, eles produzem descendentes que são incapazes de qualquer reprodução posterior ou de transmitir os parasitas da malária.
Equipas de investigação como a Target Malaria — um consórcio sem fins lucrativos coliderado por cientistas africanos em Burkina Faso, Gana, Mali e Uganda — estão a trabalhar para garantir que esta tecnologia possa eventualmente ser avaliada em África, uma vez que avaliações de risco e processos regulatórios necessários estão completos.
Um grupo de investigação no Ifakara Health Institute também está a investigar as opiniões de diferentes partes interessadas sobre os méritos da tecnologia.
Mosquitos geneticamente programados
Na natureza, existe um fenómeno denominado impulso genético, que atua no processo de reprodução. É quando um elemento genético é capaz de aumentar a probabilidade de ser herdado pela cria.
Os investigadores estão a adaptar abordagens semelhantes para criar métodos revolucionários de controlo de doenças transmitidas por insetos. Eles estão a usar ferramentas de edição de genes para modificar o que certos mosquitos são capazes de fazer e garantir que esses recursos sejam transmitidos à próxima geração. Isso já está comprovado para funcionar em ambientes experimentais.
Ao contrário da modificação genética tradicional, os impulsos genéticos permitem uma disseminação extremamente rápida das características desejadas. Os mosquitos geneticamente programados podem dominar populações selvagens de mosquitos transmissores de doenças em apenas algumas gerações, mesmo em locais remotos.
No entanto, continua a haver algum ceticismo. Isto significa que mais avaliações de educação e risco são necessárias para informar o desenvolvimento futuro da tecnologia.
Pesar os riscos e os benefícios
Como acontece com muitas outras tecnologias, esta tem riscos e benefícios potenciais. Estes devem ser examinados antes de ser tomada uma decisão final.
Uma preocupação comum são as alterações na biodiversidade. As pessoas costumam perguntar o que acontecerá se eliminarmos ou modificarmos as sequências genéticas dos mosquitos. Em locais onde o tratamento com inseticida e pulverização de casas reduziu muito os mosquitos, nenhum efeito ambiental adverso foi encontrado e os casos de malária foram significativamente reduzidos.
Existem mais de 3.500 espécies de mosquitos. Apenas 50-70 podem transmitir a malária aos humanos. Frequentemente, existem apenas duas ou três dessas espécies que dominam a transmissão da malária em qualquer país. O controlo eficaz da malária pode, portanto, ser alcançado simplesmente identificando, compreendendo e, de seguida, visando uma ou duas espécies dominantes, em vez de tentar matar todos os mosquitos.
Esta abordagem teria como alvo apenas as espécies selecionadas de mosquitos, sem afetar nenhum organismo não-alvo. É por isso que é um dos métodos mais amigáveis à biodiversidade para o controlo de mosquitos.
A investigação também mostrou que a maioria das criaturas que atacam os mosquitos Anopheles também comem outras espécies de insetos. Portanto, é improvável que a perda de algumas espécies perigosas de Anopheles coloque em risco as populações gerais de mosquitos ou dos seus predadores naturais.
ZAP // The Conversation
Seria bom que a experiencia resultasse. No entano, outra semelhante foi feita no Brasil, contra o mosquito “Aedes aegypti”, transmissor da dengue, febre amarela, zika e chikungunya, e o resultado não foi o esperado. Os autores da experiência concluiram que os mosquitos genéticamente modificados, continuaram potenciais transmissores das doenças em questão, e, pior ainda, a descendencia destes mosquitos transgénicos, pode ser mais resistente do que a anterior.