Mais de 600 mortes por ano: “O plano de verão devia ter sido criado em janeiro e não existe, bem como o plano de contingência”.
Portugal é um dos países com maior excesso de mortalidade por causa do calor. Ultrapassou as 600 mortes por ano entre 1990 e 2019.
Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, acha que a prevenção poderia ser mais eficaz: “O plano de verão devia ter sido criado em janeiro e não existe, bem como o plano de contingência, que deveria ter sido conhecido em abril. São essenciais para a prevenção dos óbitos associados ao calor excessivo e, todos os anos, isso nunca é feito”.
“Faltam medidas de prevenção e campanhas de informação à população. A sensação de sede perde-se com a idade e as pessoas mais velhas têm de se obrigar a beber em alturas de maior calor”.
Ao Diário de Notícias, o bastonário avisou que a Direção Geral de Saúde (DGS) é que tem a responsabilidade de criar os planos de prevenção.
Carlos Cortes alerta que as ondas de calor têm aumentado de ano para ano, “com um período de verão cada vez mais alargado”.
“Os grupos mais vulneráveis, como as crianças, os idosos e as pessoas com patologias crónicas que podem descompensar, devem implementar algumas medidas e falta literacia nesse âmbito. As campanhas deviam ter sido mais intensificadas”, acrescenta.
O calor excessivo traz diversas desvantagens. Uma delas é a alteração do nosso ecossistema: “Há doenças que eram próprias de África que começam a estar presentes no Sul da Europa. As doenças que temos não são as mesmas porque vírus e bactérias que têm um ambiente mais quente e desenvolvem-se de forma diferente, em comparação com a forma como o fazem num clima temperado”.
Precisamente neste contexto, o médico Luís Cadinha lembra que os mosquitos que transportam zika ou dengue deixaram de chegar apenas “a uma ponta do Algarve e têm-se alastrado a toda a zona e já foram detetados em Lisboa”.
“Embora o mosquito apenas transmita doenças quando infetado, temos uma população nova em Portugal. Esta mudança de temperatura faz do nosso país um habitat mais propício aos mosquitos”, avisa o médico de saúde pública.
Também há mais carraças. “As carraças mantêm-se ativas mais tempo e já não é só no verão – e essas sim são portadores de doenças que nos afetam. Começam mais cedo e param de estar ativas mais tarde. Antigamente estavam ativas entre maio e setembro e agora já começam em março e permanecem até novembro”.
Luís Cadinha também alerta para a maior frequência de ondas de calor. Como comparação: só houve “duas ou três” entre 2000 e de 2005, e só em 2023 houve três ondas de calor.
Para Cadinha, está a ser feito “o que é possível”, mas faltam alterações mais profundas, como no código de habitação, que “devia incluir medidas de proteção térmica. É necessário considerar a proteção do calor e do frio como essenciais na construção e isso poderia deixar-nos preparados para sermos mais resistentes às alterações climáticas”.
Já a desarborização das cidades e mais construção em densidade, isto é mais prédios em menos espaço e se possível altos, isto nem vale a pena referir.
Ruas expostas ao sol com bom asfalto e para que ninguém fale umas árvores ridículas de tamanho e com tal espaço entre elas que a pouca sombra que produzem mal dá para elas (ex. Matosinhos).
E para que nada falte. Transportes públicos, melhor vou no meu carro senão nunca mais chego.
… e transportes públicos (Carris, em Lisboa), com ar condicionado quase sempre avariados e as viaturas a abarrotarem de passageiros…
Pior do que tudo isso, é o Bacalhau à Brás.