Moro nega interferência na polícia e recusa comparações com Bolsonaro

Isac Nóbrega / PR

O presidente do Brasil Jair Bolsonaro, com o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro

O ex-ministro da Justiça brasileiro Sergio Moro prestou na quarta-feira depoimentos à justiça, tendo negado a sua interferência na Polícia Federal e recusado comparações com o Presidente, Jair Bolsonaro, a quem acusou dessa mesma irregularidade.

Moro, que foi juiz da Operação Lava Jato, prestou depoimento virtualmente à 10.ª Vara Federal de Brasília, na condição de testemunha, no âmbito da Operação Spoofing, que investiga pirataria cibernética contra autoridades do país, noticiou esta quinta-feira a agência Lusa.

O conteúdo das mensagens pirateadas de telefones como o de Sergio Moro e de procuradores da Lava Jato foi divulgado no ano passado pelo portal de jornalismo de investigação The Intercept, na série de reportagens intitulada como “Vaza Jato”.

“Eu jamais influenciei a investigação. A Polícia Federal fez o seu trabalho de forma independente”, afirmou Moro, tendo posteriormente negado qualquer comparação com Bolsonaro: “São situações absolutamente diferentes. Naquele caso, o meu telefone havia sido atacado e havia natural preocupação em saber quem eram esses indivíduos que estavam atacando as autoridades federais”.

Em abril, Moro pediu demissão do Governo, acusando Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal, para assim ter acesso a investigações judiciais, algumas das quais a envolver os filhos ou aliados.

Moro e membros do grupo de trabalho da Lava Jato estão envolvidos num escândalo, conhecido como “Vaza Jato”, que começou em junho do ano passado, quando o The Intercept Brasil e outros ‘media’ parceiros começaram a divulgar reportagens que colocam em causa a imparcialidade daquela que é a maior operação contra a corrupção no país.

Baseadas em informações obtidas por uma fonte não identificada, estas reportagens apontam que Moro terá orientado os procuradores da Lava Jato, indicado linhas de investigação e adiantado decisões enquanto era juiz responsável por analisar os processos do caso em primeira instância.

Senado Federal / Flickr

O senador Flávio Bolsonaro, filho do Presidente brasileiro Jair Bolsonaro

Se confirmadas, as denúncias indicam uma atuação ilegal do antigo magistrado e dos procuradores brasileiros porque, segundo a legislação do país, os juízes devem manter a isenção e, portanto, estão proibidos de auxiliar as partes envolvidas nos processos.

Contudo, no mês seguinte, a polícia Federal lançou a primeira fase da Operação Spoofing, em que deteve, entre outros, o ‘hacker’ Walter Delgatti Neto, suspeito de liderar o grupo de pirataria informática contra autoridades brasileiras.

Walter Delgatti Neto confessou que cometeu pirataria e que transferiu as informações para ‘The Intercept’, acrescentando que entregou o material de forma anónima e gratuita ao jornalista norte-americano e fundador do portal, Glenn Grennwald.

Moro, questionado agora se fez uso da função, à época de ministro da Justiça, para que essa investigação ficasse a cargo da Polícia Federal, argumentou que, como foram atacadas autoridades federais, a competência para investigar o caso pertencia aquele órgão policial.

Moro acrescentou ainda que recebia informações gerais da Polícia Federal sobre o andamento das investigações, mas sem detalhes. “Eu não tinha acesso ao inquérito, era só um acompanhamento do andamento do trabalho. Além da posição de vítima, havia essa situação envolvendo a segurança nacional”, frisou.

O ex-ministro de Bolsonaro disse ainda que “não tem intenção de esconder nada” sobre o seu trabalho na Lava Jato ou no Ministério da Justiça.

// Lusa

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