Moradores desalojados de Loures dizem não ter recebido nenhuma solução de realojamento por parte da Câmara, que nega que as casas estivessem ocupadas na altura em que os técnicos fizeram um levantamento para a sua demolição.
A Câmara Municipal de Loures avançou esta segunda-feira com demolições de construções ilegais no bairro de Montemor, mas os moradores dizem ter sido notificados apenas na sexta-feira passada.
Simoa Neves contou, em declarações ao jornal Público, que ocupava, juntamente com os quatro filhos, uma das 17 construções precárias, depois de ter deixado de conseguir pagar a renda de 550 euros por uma casa em Loures.
“Tive de desenrascar-me na barraca”, disse a são-tomense de 45 anos, que está há 11 em Portugal.
Sioma explicou que foi reconstruindo a casa precária, que ocupa desde o início de 2020, como pôde. Mas a situação agravou-se com a pandemia, porque perdeu um dos dois empregos que tinha.
Agora, ganha 170 euros por mês, pelo trabalho diário de duas horas e meia a fazer limpezas. O que lhe compõe o rendimento é o subsídio de 350 euros que recebe da Segurança Social, mas que é insuficiente.
“Quem vive numa barraca sabe que um dia a câmara vai demolir”, disse Simoa, explicando, no entanto, que não pensou que fosse tão cedo.
Wayvato Sacramento, de 32 anos, também vivia no bairro há mais de uma década, mas a casa – que construiu com a ajuda da comunidade – também foi demolida na segunda-feira.
Esta terça-feira, alguns moradores, entre os quais Wayvato, reuniram com a Câmara de Loures à procura de uma solução, mas saíram de lá “com uma mão cheia de nada”, disse ao Público.
Quem os recebeu foi o adjunto do presidente da câmara de Loures, que lhes disse para recorrerem aos apoios da Segurança Social e garantiu que, para já, não seriam feitas mais demolições.
Durante a tarde desta terça-feira, o autarca comunista, Bernardino Soares, disse à agência Lusa que as 17 habitações precárias que foram demolidas não estavam habitadas e que foram construídas por uma rede ilegal.
“Estas casas foram construídas recentemente. Os serviços têm vindo a monitorizar esta situação e verificaram que as casas estavam vazias na sexta-feira. Elas foram ocupadas durante o fim-de-semana porque se sabia que ia haver a operação de demolição”, disse Bernardino Soares, contrariando assim o discurso destes moradores.
A associação Habita, que tem acompanhado os moradores, afirma que as casas estavam habitadas e, entre os moradores, estavam uma idosa, uma grávida e um cidadão em cadeira de rodas.