Montenegro fecha porta ao Chega, propõe Programa de Emergência Social e recusa referendar regionalização em 2024

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Estela Silva/Lusa

Luís Montenegro, presidente eleito do PSD, no 40.º Congresso Nacional do Partido Social Democrata

Novo presidente dos sociais-democratas acusou o Governo de António Costa de deixar os portugueses no epicentro dos mais atingidos pela crise e recusou, pela primeira vez, qualquer tipo de aliança com o Chega.

Após anos de críticas à liderança de Rui Rio pela fraca oposição aos Governos PS, Luís Montenegro não perdeu tempo e transformou o seu primeiro discurso oficial como presidente do PSD, no encerramento do 40.º congresso do partido, para lançar fortes ataques à liderança de António Costa.

Após um breve diagnóstico em que citou Yuval Harari para descrever a velocidade com que o mundo se atualiza, Montenegro afirmou que, mais do que nunca, são precisos “governos fortes e oposições resistentes“. O que, no seu entender, não pode passar pela reação tardia dos problemas.

“Hoje, governar não pode resumir-se a reagir aos problemas depois das coisas correrem mal – e infelizmente, em Portugal, têm corrido mal demasiadas vezes – mas sim compreender as dificuldades antes delas ocorrerem”, condenando o “festival incessante de anúncios de medidas avulsas e precipitadas, que foram pensadas apenas para o telejornal desse mesmo dia.”

Foi neste âmbito que destacou a importância da “coragem” para “transformar e reformar“, duas falhas que aponta aos Governos de António Costa ao longo dos últimos sete anos. O resultado das políticas socialistas, considera, atirou “os portugueses para o epicentro dos mais atingidos pela crise”.

No entanto, apesar da vontade de inverter a atual situação e de situar o cidadão como a prioridade do PSD dos próximos anos, Montenegro tratou de esclarecer que o partido não deve ser confundido com “socialistas moderados“. “Somos e seremos moderados mas não somos nem seremos socialistas”, atirou. Já à direita, também fez questão de estabelecer uma distância para com o Chega, sem nunca nomear o partido de André Ventura.

“É por sermos moderados que também não somos nem populistas nem ultraliberais. E muito menos nos associaremos algum dia a qualquer política xenófoba ou racista.” O novo líder partidário foi ainda mais longe, dizendo que “jamais” abdicará dos seus “princípios” para se aliar com o Chega na formação de um hipotético Governo à direita – uma dúvida que pairava sobre a sua figura e liderança.

“Acreditem, se algum dia for confrontado com a violação dos nossos princípios e valores para formar ou suportar um Governo, o partido pode decidir o que quiser mas não serei eu o líder de um Governo desses.” Esta foi a rampa de lançamento para mais um leque de críticas ao partido socialista, sobretudo pela sua união aos partidos que formaram o acordo pós-eleitoral em 2015, com Montenegro a acusar as principais figuras do Governo de “saltar o muro dos extremismos”.

“António Costa, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, Mariana Vieira da Silva, Ana Catarina Mendes, e por aí fora, violaram os princípios do socialismo moderado para evitar a reforma política antecipada do atual primeiro-ministro.”

No rol de críticas ao Governo, seguiram-se as acusações de facilitismo, de estatização e do ascendente ideológico do Governo. É neste grupo que Luís Montenegro inclui a situação da TAP, empresa que o Executivo de António Costa decidiu “renacionalizar não a totalidade do capital mas a totalidade dos riscos”.

No seu discurso, Montenegro destacou também o “caótico” setor da saúde e a situação que se vive no aeroporto de Lisboa, que nos últimos dias tem sido palco de “filas terceiro-mundistas para passar o controlo fronteiriço”. Outro ponto da governação socialista lembrado pelo novo líder do PSD foi o dos incêndios de 2017, episódio que caracterizou como sendo reflexo da “vergonhosa incapacidade de estar ao lado de quem precisa”.

Para romper com essa dinâmica e fazer frente à atual situação económica, marcada pela subida dos preços, Luís Montenegro defendeu a atribuição de vales alimentares mensais para as famílias mais pobres e elegeu como “primeira prioridade de ação” a implementação de um programa de emergência social.

“Defendemos a criação desde já de um Programa de Emergência Social que aproveite o excedente criado pela repercussão da inflação na cobrança dos impostos e inclua medidas como um vale alimentar mensal às famílias de mais baixos rendimentos”, afirmou, considerando que a resposta do Governo “tem ficado aquém” e demonstra “insensibilidade social”.

A renovação de descidas ou suspensões na fiscalidade sobre os combustíveis, uma intervenção na fiscalidade e contribuições associadas ao consumo de eletricidade, apoios ao setor agrícola, pecuário e pescas foram outras das orientações que “o Governo deve seguir na formulação desse Programa de Emergência Social”, segundo o novo líder do PSD. Neste ponto, criticou “a alegria com que o primeiro-ministro e o PS” anunciaram um aumento de pensões para o próximo ano, que decorre da lei.

Já na reta final do discurso, Luís Montenegro anunciou que o PSD será contra a realização de um referendo à regionalização caso este se realize em 2024, por considerar que o tempo não é “adequado”.

“Fazer um referendo neste quadro crítico e delicado seria do meu ponto de vista uma irresponsabilidade, uma precipitação e um erro. Os portugueses não compreenderiam. Tenhamos as noções das prioridades, em 24 de Fevereiro não foi só o mundo que mudou. Mudou também a hierarquia das nossas prioridades, das nossas ambições e das nossas responsabilidades. Convém ter os pés bem assentes na terra e falar a verdade ao país”, alertou.

Ainda assim, reconheceu que o Governo, assente na maioria absoluta de que os socialistas dispõem no Parlamento, pode avançar sem o apoio do PSD. “O Governo tem todo o direito de avançar se pensar de modo diferente. Avançará sozinho para a iniciativa de convocar referendo em 2024, não terá o aval ou a cobertura do PSD”, sintetizou.

Ana Rita Moutinho //

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5 Comments

  1. Esperava coisa diferente, foi um pesadelo o mesmo do costume, um congresso inteirinho a falar do PS do Costa, e inesperadamente o pormenorizar ministros individualmente, do PSD Zero, do Futuro, das propostas do PSD zero, o que pensa fazer, as alternativas ao PS, o que fará diferente, a politica de impostos, da politica de saúde, da falta de pessoal de saúde, da politica dos salários, dos vencimentos médios em Portugal, etc. zero.

  2. Resulta que uma cópia de Passos surgiu . Montepegro falou falou , mas nada de bom se espera. Quem se lembra de Pastos lembra-se da tragédia de um tempo amaldiçoado , com a maior austeridade de sempre , falências, impostos , emigração, subsídio de férias e décimo terceiro mês na gaveta . Um retrocesso sem precedentes , que impôs aos portugueses sacrifícios que segundo esse sujeito eram irreversíveis . Os reformados foram vítimas em relação às suas reformas , que são o resultado de uma vida de trabalho. Tinham ainda o desplante de dizer que iriam tirar seiscentos milhões às reformas. Esta gente não merece a minha consideração nem o meu voto. Venderam a EDP e a REN ao PC chinês uma empresa que dava lucros . Com esta venda os benefícios para os portugueses não foram nenhuns. A privatização do n. banco um autêntico cancro.

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