Com os seus imponentes 8849 metros, o Monte Evereste é, atualmente, o pico mais alto do planeta. Escalar esta montanha pode parecer assustador, ainda mais durante a noite.
O Monte Evereste faz uns sons muito assustadores durante a noite, algo que intrigou os cientistas durante vários anos.
Dave Hahn, um experiente líder de expedições que conta já com 15 subidas ao topo no seu currículo, partilhou as suas experiências num documentário da Netflix: “Aftershock: Evereste e o Terramoto do Nepal”.
De acordo com o seu depoimento, quando o sol se põe na montanha, “ouvem-se estalos, o gelo e a rocha a cair em vários locais do vale”, dificultando o sono durante a noite. Apesar de ter ficado encantado com o ambiente gélido, também se sentiu algo perturbado pelos sons bizarros que emanavam do glaciar.
Até à publicação de um estudo que se debruçou sobre o assunto, ninguém sabia porque é que a montanha parecia ganhar vida à noite, nem a causa destes sons repentinos e ensurdecedores que podem ser ouvidos a centenas de quilómetros de distância.
Segundo o IFL Science, em 2017, uma equipa de investigadores do Nepal e do Japão começou a estudar a atividade sísmica glacial dos Himalaias e, durante uma caminhada de mais de uma semana, acampou num glaciar aberto, sem detritos, tendo notado os estranhos ruídos noturnos.
“Reparámos que o nosso glaciar estava a rebentar, ou a explodir com fissuras, durante a noite”, detalhou, na altura, Evgeny Podolskiy, em comunicado. A razão por trás destes sons reside no próprio glaciar e está relacionada com a queda da temperatura durante a noite.
O glaciologista do Centro de Pesquisa Ártica da Universidade de Hokkaido, no Japão, observou que o gelo local é altamente sensível à taxa de mudança de temperatura. Apesar de os investigadores trabalharem de t-shirt durante o dia, as temperaturas começavam a descer para cerca de -15°C assim que o sol se punha.
Estas “fraturas térmicas noturnas” devem-se ao facto de os glaciares sem detritos, como aquele em que a equipa se instalou, estarem mais expostos aos elementos, causando grandes contrações térmicas à medida que as suas superfícies arrefecem.
Por sua vez, as contrações acabam por desencadear fraturas próximas da superfície nos glaciares expostos, que produzem sons de estalos que ecoam por toda a cordilheira.
A mesma investigação, publicada em 2018 na Geophysical Research Letters, também permitiu concluir que os glaciares finos estavam em maior risco de contração térmica, enquanto os glaciares mais espessos sofriam menos stress térmico.
O mais curioso é que, apesar de os Himalaias serem uma das maiores reservas de gelo da Terra, os glaciares cobertos de detritos, que constituem cerca de 70% dos Himalaias glaciares, são o tipo menos representado nos estudos de sismologia dos glaciares.
É por isso que ainda não é claro porque é que as alterações de temperatura parecem afetar mais os glaciares dos Himalaias do que os restantes de outras partes do mundo.