Molécula essencial à vida encontrada a flutuar no espaço pela primeira vez

NASA/JPL-Caltech; MolView

Centro da galáxia G+0.693-0.027 tal como vista com luz infra-vermelha pelo telescópio espacial Spitzer, da NASA; à direita, molécula de ácido carbónico (H₂CO₃)

O ácido carbónico, um importante componente dos aminoácidos, foi encontrado numa nuvem de gás perto da Via Láctea. Esta descoberta pode explicar como surgiu a vida na Terra.

Um importante componente dos aminoácidos, o ácido carbónico, foi detetado pela primeira vez no espaço.

Os ácidos carboxílicos, dos quais faz parte o ácido carbónico, formam a espinha dorsal dos aminoácidos, os componentes principais das proteínas.

O ácido carbónico, por sua vez, desempenha um papel importante também no sistema respiratório, sendo responsável por transferir o dióxido de carbono do sangue para os pulmões, para que o possamos exalar.

Além disto, o ácido carbónico é também importante em diversos outros processos atmosféricos e geológicos, que ajudam a sustentar a vida no nosso planeta.

Descobrir a origem dos ácidos carboxílicos no espaço pode ajudar-nos a explicar como é que a vida surgiu no planeta Terra. Até então, apenas dois ácidos carboxílicos simples, o ácido fórmico e o ácido acético, tinham sido identificados no espaço.

O ácido carbónico (H₂CO₃) é mais complexo, uma vez que possui três átomos de oxigénio e por isso emite um sinal mais fraco, difícil de identificar.

No entanto, Miguel Sanz-Novo e a sua equipa de investigação, do Centro Espanhol de Astrobiologia de Madrid, conseguiram identificar o ácido carbónico numa nuvem de gás e poeira chamada G+0.693-0.027, que fica perto do centro da Via Láctea e está a cerca de 100 000 anos-luz de distância da Terra.

“A identificação e caracterização do ácido carbónico é muito difícil, mesmo na Terra, porque esta molécula decompõem-se rapidamente em dióxido de carbono e água”, diz Sanz-Novo, citado pela New Scientist.

Basta existir apenas uma molécula de água, para que uma molécula de ácido carbónico se decomponha. No entanto, em espaços livres de água, como o espaço, este ácido pode existir na forma de gás, a sua forma mais estável.


Para encontrar esta molécula, os investigadores procuraram por uma luz com um comprimento de onde milimétrico, proveniente de G+0.693-0.027, utilizando dois telescópios nos observatórios Yebes e IRAM, em Espanha.

As medições foram comparadas com medições laboratoriais realizadas anteriormente com ácido carbónico.

Sanz-Novo acredita que o ácido está a ser formado em grãos gelados de poeira na nuvem. Quando estes grãos são perturbados de alguma forma, o ácido é libertado na forma de gás.

“Uma vez na fase gasosa, o ácido carbónico gira e emite fotões com uma frequência exata”, explica o autor do estudo, que foi pré-publicado no arXiv. “Isto permite-nos recolher os espetros e comparar com os dados que já temos de medições feitas em laboratório.”

“Esta descoberta é mais um tijolo importante na parede que estamos a construir para entender a astroquímica”, diz Nigel Mason, investigador da Universidade de Kent, no Reino Unido.

“Uma vez feita esta descoberta, surgem várias outras questões sobre a formação dos aminoácidos e da química prebiótica”. O investigador acrescenta ainda que “aminoácidos foram encontrados em meteoritos, mas não sabemos necessariamente como é que lá chegaram ou como é que foram produzidos”.

Patrícia Carvalho, ZAP //

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