Misteriosa nota apagada da agenda secreta de Salgado pode estar ligada à fortuna de Mexia em offshore

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António Cotrim, António Pedro Santos / Lusa

Nota associa números aos nomes do ex-presidente da EDP e ao ex-ministro da Economia, Manuel Pinho.

Uma nota misteriosa encontrada na agenda pessoal de Ricardo Salgado, datada de 2010, está a ser ‘ressuscitada’ na investigação do Ministério Público (MP) à origem de seis milhões de dólares detidos por António Mexia, ex-presidente da EDP, numa offshore.

A nota associa números aos nomes de Mexia e Manuel Pinho, ex-ministro da Economia, e levanta questões sobre eventuais ligações entre o ex-líder do Banco Espírito Santo (BES) e os dois homens, avança o Correio da Manhã esta segunda-feira.

A offshore em questão, Miamex Ventures, tinha sede nas Ilhas Virgens Britânicas, e a sua conta bancária era gerida por Bernardo d’Orey, financeiro e vice-presidente da EFG Capital, corretora localizada no mesmo edifício do antigo BES Miami.

Entre 2014 e 2020, Mexia terá mantido a referida conta offshore, cuja origem dos fundos está agora sob escrutínio — o Ministério Público suspeita que os 6 milhões de dólares que Mexia tinha na offshore estão relacionados com a construtora Odebrecht, envolvida no processo Lava-Jato, no Brasil.

A agenda pessoal de Salgado entre 2009 e 2012 contém várias referências a Mexia, e menciona reuniões entre ambos.

A agenda de 2010 inclui uma nota datada de 1 de março que liga números aos nomes de Mexia e Pinho — uma informação que foi apagada, mas que foi recuperada por peritos da Polícia Judiciária e integra agora o processo BES/GES. No entanto, o significado exato dos números mencionados ainda não foi esclarecido pela investigação. “750xxx/671277xxx António Mexia EDP (Pinho)”, lê-se na agenda, segundo o matutino.

O Ministério Público defende que Salgado, Mexia e Pinho mantinham uma relação de proximidade, salientando o facto de Pinho e Salgado se terem reunido poucos dias antes da nomeação de Mexia como presidente da EDP, em janeiro de 2006. Além disso, o BES comprou uma participação na EDP por essa altura.

A investigação também se foca na origem dos seis milhões de dólares da offshore Miamex, no âmbito do inquérito sobre a barragem do Baixo Sabor. A autoridade tributária está a avaliar se Mexia declarou essa quantia em Portugal, com o objetivo de apurar se foram pagos os impostos devidos.

A investigação sobre a identidade do misterioso “Príncipe”, alegadamente associado a pagamentos paralelos pela Odebrecht, tem sido um ponto central. As suspeitas inicialmente recaíram sobre Manuel Pinho, antigo ministro da Economia, mas não houve conclusões sólidas. Entretanto, a defesa de Mexia e Manso Neto conseguiu uma vitória no Supremo Tribunal de Justiça, que declarou nula a apreensão de emails pelo MP, o que pode impactar significativamente o processo.

Além deste desenvolvimento, Manuel Pinho foi condenado a 10 anos de prisão, e Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, a seis anos, ambos por corrupção, num processo derivado do caso EDP.

Ao mesmo tempo, o prazo para o MP apresentar a acusação no processo dos CMEC, onde Mexia, João Manso Neto e João Conceição são arguidos, está a chegar ao fim.

ZAP //

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