Misteriosa espécie de bactéria com características únicas descoberta no fundo do oceano

ZAP // Zheng et al. / eLife

Poriferisphaera hetertotrophicis — conceito artístico derivado da imagem obtida pelos autores do estudo

Uma equipa de investigadores da Academia de Ciências da China descobriu uma nova espécie de bactéria marinha, de características únicas, em sedimentos oceânicos profundos, que pode transformar a nossa compreensão da microbiologia e dos ambientes do mar profundo.

A bactéria, denominada Poriferisphaera heterotrophicis, pertence ao filo Planctomycetes, pouco estudado mas essencial nos ciclos globais de carbono e azoto.

A descoberta foi apresentada num artigo publicado a semana passada na revista eLife.

Os investigadores cultivaram a bactéria em laboratório numa “cold seep” — uma sopa de sedimentos e lama ricos em nutrientes semelhantes aos encontrados em fontes hidrotermais no fundo do oceano, com a qual simularam com sucesso as condições do mar profundo.

Ao contrário de outras bactérias cultivadas, a nova estirpe identificada, rotulada como ZRK32, mostrou um crescimento acelerado e um novo mecanismo de gemulação, processo de reprodução assexuada em que as células-mãe desenvolvem gomos que posteriormente se tornam os seus descendentes.

Processo de gemulação da ZRK32

Este mecanismo único é provavelmente uma adaptação destas bactérias ao seu habitat de mar profundo.

Além disso, a bactéria interage de forma diferente no ciclo do azoto, coexistindo com um bacteriófago específico (um vírus que infeta bactérias) denominado fago-ZRK32, que a ajuda a processar o azoto.

Ao contrário dos bacteriófagos típicos, o fago-ZRK32 vive no seu hospedeiro sem o destruir, o que é crucial para o processamento do ciclo do azoto em ambientes de mar profundo.

“Esta nova espécie oferece um modelo inovador para estudar a relação entre as bactérias Planctomycetes e os vírus”, explica ao Science Alert o microbiólogo Chaomin Sun, autor correspondente do estudo.

O estudo preenche uma lacuna significativa no nosso conhecimento da biologia marinha, considerando que os Planctomycetes são comuns mas mal compreendidos em ambientes de mar profundo, e pode ter implicações de grande alcance para a nossa compreensão dos complexos processos químicos que ocorrem nas profundezas do oceano.

Armando Batista, ZAP //

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