Em 1879, Charles Darwin escreveu uma carta a Joseph Hooker, seu amigo e botânico, na qual expressou a sua profunda irritação com o mistério de como evoluíram as primeiras plantas com flor. Agora, um dos mistérios que tanto confundiu Darwin foi resolvido.
“O rápido desenvolvimento, tanto quanto podemos julgar, de todas as plantas superiores nos últimos tempos geológicos é um mistério abominável“, lia-se na missiva endereçada a Joseph Hooker.
A verdade é que a história da súbita ascensão e disseminação das plantas com flor ainda é um mistério. Richard Buggs, biólogo evolucionário da Queen Mary University of London, disse à BBC que, no registo fóssil, estas plantas surgem “muito de repente no Cretáceo, datado de, aproximadamente, 100 milhões de anos atrás”.
Além disso, o especialista acrescentou que não há evidências de angiospermas [planta que produz flores e dá sementes em frutos] antes delas. “Apareceram de repente e em considerável diversidade.”
Recentemente, uma equipa de cientistas da UC Santa Cruz, nos Estados Unidos, desvendou um dos mistérios que tanto confundiu Charles Darwin: o motivo pelo qual algumas plantas têm dois conjuntos diferentes de anteras, parte do órgão reprodutor de uma flor – o estame – que contem o pólen.
Mistério (finalmente) resolvido
As plantas com flor dependem de abelhas e outros polinizadores para as ajudar a reproduzir, já que são eles que transportam o pólen das anteras masculinas de uma planta para o estigma feminino de outra. Como o pólen é o alimento das abelhas, se estes insetos tiveram comida suficiente, o mais provável é que se esqueçam do seu papel e vão para casa alimentar os seus descendentes.
A professora de Ecologia e Biologia Kathleen Kay explicou que é por esse motivo que “as plantas têm desenvolvido maneiras de otimizar o comportamento das abelhas para maximizar a transferência de pólen entre as flores”. Daí o papel dos dois conjuntos de anteras – conhecido, na botânica, como heteranteria.
Em comunicado, a universidade norte-americana explica que Darwin ficou “perplexo” com as flores que tinham dois conjuntos de anteras. A equipa foi finalmente capaz de encontrar uma resposta e o artigo científico foi publicado no dia 23 de dezembro na Proceedings of the Royal Society B.
Em flores silvestres do género Clarkia, a heteranteria pode ser explicada como uma característica que permite que as plantas “doem pólen” às abelhas. Como as anteras se abrem em momentos distintos, a planta acaba por distribuir o pólen gradualmente.
Desta forma, como as abelhas recebem um pouco de pólen de cada vez, o mais provável é que os animais passem noutra flor antes de regressarem para o ninho.