Afinal, o “milagre de Fátima” da cega que passou a ver na JMJ não foi em Fátima

Paulo Cunha / Lusa

A adolescente espanhola de 16 anos que diz ter recebido um “milagre de Fátima”, deixando de ser cega, não estava afinal no Santuário de Fátima nesse momento, mas na Igreja Paroquial de São Tiago de Évora de Alcobaça.

A informação é avançada pelo jornal local Região de Leiria e confirmada pelo padre Ivo Manuel Santos, de 38 anos.

A jovem Jimena estava alojada com outras 600 raparigas espanholas alojada na paróquia no âmbito da JMJ.

“No sábado [dia 5 de Agosto], fizemos a despedida do grupo [que ia para a JMJ em Lisboa], pelas 10 horas, e depois as jovens tiveram missa com o sacerdote que as acompanhava. Havia voluntários cá fora, porque a igreja estava a abarrotar. De repente, começam a ver raparigas a sair a chorar, numa grande algazarra. Foi então que contaram a história”, refere o padre ao Região de Leiria.

Depois de comungar sentiu uma mão e recuperou a visão. E de seguida foi ler a oração própria da novena. E depois foi um grande alvoroço. Os voluntários ficaram muito emocionados, muito comovidos“, conta ainda Ivo Manuel Santos.

“É algo que parece muito autêntico, não parece haver qualquer deturpação, nem perversidade ou tentativa de engano”, diz ainda o pároco.

Jimena e o grupo de peregrinos onde estava integrada ficaram alojados em Évora de Alcobaça durante mais de uma semana. “Oraram a Nossa Senhora das Neves e foram à missa todos os dias, rezando o Terço, pedindo que a jovem peregrina fosse curada”, conta também o padre.

A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) está a acompanhar o caso, segundo revela a imprensa do país vizinho, notando que é preciso que os médicos confirmem que não havia hipóteses de curar a jovem para se concluir que foi mesmo um “milagre”.

Médicos não conseguiam explicar caso da filha

O pai de Jimena fala da situação como “uma prenda da Virgem Maria para a JMJ” em declarações à ACI Prensa.

A adolescente sofria há dois anos de “espasmo de acomodação”, segundo o pai que nota que se trata de “um bloqueio das funções do olho, algo mais ou menos normal em meninas dessa idade com uma quantidade de duas dioptrias”.

Mas “o caso de Jimena oscilava entre 8 e 16 dioptrias nos piores momentos”, diz o pai, frisando que, assim, a filha não conseguia ver, “nem com óculos, nem de nenhuma forma”, porque “o seu olho estava louco” e “não conseguia focar”.

“A convergência dos olhos não funcionava, era algo que os próprios médicos classificaram de inexplicável“, acrescenta.

Jimena chegou a tentar um tratamento inovador, mas que não deu resultado, e os médicos “não sabiam mais o que fazer”, nota o pai.

Jovem sofria de “falsa miopia”

O “espasmo de acomodação” é uma condição clínica conhecida como “falsa miopia”, ou “síndrome do olho cansado”. É uma deficiência visual relacionada com a contração espasmódica do músculo ciliar, o que reduz a acuidade visual, causando também dores nos olhos.

É um problema comum na área da oftalmologia pediátrica, afectando várias crianças em idade escolar. Costuma ser reversível, mas, se o problema continuar, pode transformar-se numa verdadeira miopia.

ZAP //

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