As autoridades bielorrussas libertaram mais de mil pessoas que estavam detidas devido às manifestações contra a reeleição do Presidente. Resposta da União Europeia começa a ser discutida esta sexta-feira.
“Mais de mil pessoas foram libertadas com a obrigação de não participarem em manifestações não autorizadas”, disse Natalia Kotchanova, em declarações transmitidas através da televisão estatal, citadas pela agência France-Presse. Já o ministro do Interior, Yuri Karaev, pediu desculpa pela violência policial contra as pessoas que não participavam nos protestos.
Milhares de pessoas formaram cordões humanos nas ruas de Minsk para denunciarem a repressão violenta das manifestações de contestação dos resultados das eleições de domingo, que mantiveram no poder o Presidente Alexander Lukashenko, noticiou a AFP.
No total, milhares de pessoas aderiram a este tipo de ação na capital, enquanto nas redes sociais se multiplicam as imagens de iniciativas semelhantes no país. Há também relato de greves em empresas e fábricas.
Esta forma de mobilização, lançada na quarta-feira por dezenas de mulheres vestidas de branco, até agora não desencadeou uma repressão violenta como a que visou as manifestações noturnas. Desde domingo, mais de 6700 pessoas foram detidas durante ações de protesto.
A polícia reprimiu os protestos com cassetetes, gás lacrimogéneo e balas de borracha, granadas atordoantes e outros meios. Um manifestante morreu, na segunda-feira, em Minsk, e muitos ficaram feridos. A Rádio Liberdade informou que um segundo homem morreu num hospital na cidade de Gomel, sudeste do país, após ser detido pela polícia. A repressão aos manifestantes tem gerado duras críticas na comunidade internacional.
Organizações de direitos humanos da Bielorrússia denunciaram, esta quinta-feira, vários abusos e torturas contra detidos. Doze organizações, entre elas a Viasna, o Comité Helsínquia e a Associação dos Jornalistas da Bielorrússia, exigiram a libertação de todos os detidos e a abertura de uma investigação sobre maus tratos e atos de tortura.
Von der Leyen pede à UE que adote sanções
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apelou ao Conselho da União Europeia que adote sanções à Bielorrússia por violação de valores democráticos e direitos humanos.
“Precisamos de sanções adicionais contra aqueles que violaram valores democráticos ou abusaram de direitos humanos na Bielorrússia”, escreveu no Twitter.
“Estou confiante de que a reunião de hoje dos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE demonstra o nosso forte apoio ao direito das pessoas na Bielorrússia às liberdades fundamentais e à democracia”, acrescentou.
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia realizam, esta sexta-feira, uma reunião extraordinária, por videoconferência, na qual discutirão a estratégia comum de resposta à repressão violenta das manifestações na Bielorrússia.
Apesar de os chefes de diplomacia europeia terem uma reunião informal agendada para 27 e 28 de agosto, em Berlim, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, decidiu convocar este Conselho extraordinário.
Embora a agenda de trabalhos inclua outros temas da atualidade, como a tensão entre Grécia e Turquia no Mediterrâneo oriental e a situação de emergência no Líbano após as explosões que devastaram Beirute, o tema principal será a resposta da UE à situação neste país, que suscita divisões entre os Estados-membros, designadamente entre os defensores de sanções e aqueles que preferem privilegiar a via diplomática.
Numa declaração aprovada pelos 27 Estados-membros, a UE denunciou, esta semana, que as eleições Presidenciais não foram “nem livres nem justas” e ameaçou adotar sanções contra os responsáveis pela violência exercida contra manifestantes pacíficos.
“As eleições não foram nem livres nem justas. (…) Procederemos a uma revisão aprofundada das relações da UE com a Bielorrússia. Poderá implicar, entre outras, a adoção de medidas contra os responsáveis das violências registadas, das detenções injustificadas e da falsificação dos resultados das eleições.”
A declaração europeia, emitida pelo gabinete de Josep Borrel, lamenta que, após o povo bielorrusso “ter demonstrado o seu desejo de mudança democrática”, as eleições não tenham decorrido de forma transparente e que as autoridades estatais tenham exibido “uma violência desproporcionada e inaceitável”.
“Para mais, informações credíveis de observadores internos demonstram que o processo eleitoral não cumpriu os parâmetros internacionais aguardados num país que participa na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa [OSCE]”, acrescenta.
Bielorrússia quer dialogar com “parceiros” estrangeiros
A Bielorrússia já manifestou disposição para estabelecer um “diálogo construtivo” com o estrangeiro sobre as recentes eleições presidenciais e a contestação reprimida pelas autoridades.
“A Bielorrússia está pronta para o diálogo construtivo e objetivo com os parceiros estrangeiros sobre todas as questões ligadas aos acontecimentos desde a campanha eleitoral”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em comunicado, após uma conversa telefónica entre o chefe da diplomacia bielorrussa, Vladimir Makeï, e o seu homólogo suíço, Ignazio Cassis.
“A conversa centrou-se na discussão sobre as eleições presidenciais no nosso país e a situação atual”, refere a nota de Makei difundida pela agência estatal bielorrussa Belta.
ZAP // Lusa