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Um dos maiores enigmas do século XX: De que forma o México poderá ter ligações à morte de John F. Kennedy

A maioria das teorias da conspiração em torno da morte do ex-presidente dos Estados Unidos foram refutadas. Ao contrário do que se dizia na época, Kennedy não foi morto por um dispositivo de gás ativado por alienígenas ou pelo pai do ator Woody Harrelson. Mas o que poderá ter o México a ver com o assassinato?

As especulações sobre o assassinato de John F. Kennedy, que ocorreu no dia 22 de novembro de 1963, em Dallas, no Texas, foram alimentadas ao longo dos anos por documentos classificados como confidenciais, balísticas suspeitas e a alegação do assassino Lee Harvey Oswald de que o Presidente era “apenas um bode expiatório”.

No meio de tantas suposições, há quem ainda tente encontrar respostas. São vários os especialistas, como Phillip Shenon, ex-repórter de investigação do New York Times, que veem o México como o melhor lugar para encontrar respostas sobre uma possível conspiração.

Isto porque cerca de um mês antes do assassinato de Kennedy, Oswald apanhou um autocarro que o levou do Texas à Cidade do México. O assassino do ex-presidente chegou na manhã de sexta-feira, dia 27 de setembro de 1963, e voltou aos EUA a 2 de outubro. Esta estranha viagem faz com que muitos analistas a questionem como um dos primeiros indícios de premeditação do assassinato do Presidente.

Nasce uma teoria da conspiração

Todos os países comunistas e democráticos tinham uma embaixada na Cidade do México, e segundo testemunhas das missões diplomáticas cubana e soviética, Oswald visitou as embaixadas destes países na sexta-feira e no sábado, dias 27 e 28 de setembro de 1963. O assassino queria adquirir vistos para poder viajar.

Quando lhe disseram que os documentos demorariam meses até ficarem prontos, o americano entrou em confrontos e acabou mesmo por provocar o cancelamento de um jogo de vólei da KGB após exibir uma arma no consulado soviético.

Estes acontecimentos são documentados pela CIA, que na década de 1960 intensificou as suas operações no México para monitorizar atividades comunistas, contratando assim 200 agentes mexicanos para auxiliar os trabalhos.

O Serviço Secreto Mexicano, que viu parte dos seus arquivos da década de 1960 terem recentemente parte do sigilo removido pelo governo mexicano, também analisou os passos de Oswald, porém o seu paradeiro durante os três dias e meio de viagem ainda é desconhecido.

A principal teoria da conspiração que dá conta do período não documentado que o Oswald passou na Cidade do México, liga-o a figuras consideradas perigosas do lado esquerdo da Guerra Fria.

Esta história teve origem em março de 1967, quando o cônsul americano na cidade mexicana de Tampico, Benjamin Ruyle, comprava bebidas para jornalistas locais.

Óscar Contreras Lartigue, um repórter do El Sol de Tampico, disse a Ruyle que conheceu Oswald em 1963 quando era estudante de Direito na Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM).

O jornalista revelou que fez parte de um grupo universitário pró-Castro ao qual Oswald tinha pedido ajuda para conseguir adquirir um visto cubano. Segundo o relato, o americano passou dois dias com os alunos da UNAM, sendo que os voltou a encontrar alguns dias depois na embaixada cubana.

Contreras não deu muitos mais detalhes a Ruyle, pois temia ser perseguido pelas suas atividades políticas.

O repórter contou, entretanto, que aquela não era a primeira vez que ele partilhava a sua história, pois disse a Ruyle que já a tinha comentado com o seu editor na época do assassinato de JFK.

O relato de Contreras

A descrição dos acontecimentos por parte de Contreras sugeria a existência de conexões suspeitas entre Oswald e a Cuba comunista, sustentadas pouco antes do assassinato de JFK.

A história do jornalista foi, de acordo com um relatório enviado posteriormente da sede da CIA, “a primeira pista sólida que temos sobre as atividades de Oswald no México”. Porém, os funcionários do governo dos EUA precisavam de ter a certeza se o jornalista era uma fonte confiável.

Passados três meses, um funcionário da CIA na Cidade do México foi a Tampico para interrogar Contreras. Durante seis horas, o jornalista recusou-se a entrar em detalhes, mas disse que, embora Oswald nunca tenha mencionado um possível assassinato, afirmava repetidamente que “deveria chegar a Cuba”.

Em 1978, Dan Hardway, um investigador do comité da Câmara dos Deputados que se debruçou sobre o assassinato de Kennedy, foi ao México. Após várias tentativas de conversar com Contreras, advertiu num relatório que o relato do jornalista não deveria ser descartado.

Um repórter do New York Times que entrevistou Contreras para um livro de 2013 sobre o assassinato de JFK, também considerou que a sua versão dos factos era de facto confiável. O jornalista escreveu que Contreras “foi muito mais longe” na sua entrevista do que com a CIA, alegando “contactos muito mais extensos entre Oswald e agentes cubanos no México”.

Hardway, que agora é advogado em West Virginia, ainda acredita no repórter mexicano. Depois de ler o livro escrito em 2013, reiterou que Lee Harvey Oswald poderia ter feito parte de uma rede de inteligência cubana mais ampla.

O “buraco” na história

Gonzalo Soltero, atualmente professor da Escola de Estudos Superiores na Universidade Nacional Autónoma do México, faz uma análise sobre esta história e lamenta que Óscar Contreras tenha morrido em 2016, por isso não foi a tempo de o entrevistar.

Contudo, o especialista revela que, na sua pesquisa, um pequeno detalhe da biografia do jornalista lhe chamou à atenção. Soltero diz que se trata de uma contradição aparentemente esquecida que poderia minar toda a história. O professor alega que os arquivos do El Sol de Tampico contrariam o relato de Contreras.

Para além destas, existem outras teorias da conspiração, incluindo uma que Oswald tinha uma amante mexicana que o levou a uma festa de comunistas e espiões.

As teorias da conspiração oferecem a promessa de profundidade e conclusão, de resolver um dos maiores enigmas do século XX. No entanto, pelo que se sabe sobre o que Oswald fez na Cidade do México, este era uma pessoa solitária, instável e desorganizada.

Como escreve Gonzalo Soltero no The Conversation “o assassinato de JFK é um caso cada vez mais frio e, no México, só existem pistas esgotadas”.

Ana Moura, ZAP //

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