A decisão de introduzir caracóis não nativos no Taiti levou à extinção de 56 espécies de caramujos arbóreos. Contudo, uma das espécies sobreviveu. Para perceber como este “milagre” aconteceu, uma equipa usou o menor computador do mundo.
Mais de cinquenta espécies de caramujos arbóreos foram dizimados após a introdução de um caracol predador na década de 1970, mas o Partula Hyalina sobreviveu.
Graças a uma colaboração entre biólogos e engenheiros da Universidade do Michigan, os cientistas perceberam que o Partula hyalina tem capacidade para tolerar mais luz solar do que o seu predador, por isso foi capaz de persistir em habitats da floresta iluminados pelo sol.
“Conseguimos obter dados que ninguém conseguiu”, referiu David Blaauw, um dos autores do estudo, que acrescenta que as conclusões só foram possíveis devido a “um minúsculo sistema de computação que era pequeno o suficiente para se fixar num caracol”, podendo assim ser transportado pelo animal.
O Michigan Micro Mote (M3), considerado o menor computador completo do mundo, foi anunciado em 2014 por uma equipa co-liderada por Blaauw. Esta foi a sua primeira aplicação em campo, escreve o IFL Science.
Como foi feita a descoberta
Diarmaid Ó Foighil, professora da Universidade do Michigan, já suspeitava há algum tempo que as conchas brancas do caracol eram um sinal que poderia ajudar a explicar a sua sobrevivência, pois refletiam tanta luz solar que poderia ajudar os animais a sobreviver em condições que aqueciam demasiado as suas contrapartes de concha escura.
O problema era que, para confirmar isso, Foighil precisava de registos detalhados da exposição dos caracóis à luz do sol e, na época, nenhum sensor, cujo peso não impedisse os movimentos dos caracóis, estava disponível.
Embora existissem dispositivos microscópicos capazes de realizar cálculos simples, os seus fabricantes afirmam que o M3 é o menor computador “completo”, que pode inserir, processar, armazenar e produzir dados precisos que podem ajudar nesta questão.
As descobertas da equipa, que foram obtidas através do computador carregado pelo caracol, revelam que o Partula hyalina pode passar o dia inteiro em áreas com luz do sol dez vezes mais forte do que as outras espécies, permitindo-lhe escapar de predações.
Além de resolver este mistério, Foighil acredita que “o M3 abre a janela do que podemos fazer com a ecologia comportamental de invertebrados”, permitindo aos cientistas analisar espécies consideradas muito pequenas.
Na sua primeira aplicação em campo, o M3 foi combinado com uma bateria e uma célula solar, permitindo que a luz fosse medida com base na rapidez com que a bateria carregava.
O estudo foi publicado a 15 de junho na revista Communications Biology.