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Memorial do Holocausto vai ser construído no coração de Londres

(dr) Adjaye Associates, Ron Arad Architects e Gustafson Porter+Bowman

Depois de vários anos a ser planeado, finalmente foi aprovado. O coração de Londres irá receber um Memorial do Holocausto e um centro educacional. De acordo com o governo britânico, o objetivo é criar um espaço nacional para homenagear os 6 milhões de judeus vítimas do Holocausto.

Além disso, todas as outras vítimas do nazismo também serão homenageadas, incluindo membros de outras etnias, homossexuais e pessoas com deficiências, segundo as autoridades londrinas.

O centro educacional também fará homenagem a genocídios posteriores, incluindo os ocorridos no Camboja, Ruanda, Bósnia e Herzegovina e Sudão. A entrada será gratuita.

Apesar de se tratar do primeiro memorial e centro educacional sobre o Holocausto do Reino Unido, já existe um Jardim Memorial do Holocausto no Hyde Park de Londres.

Monumento polémico

A construção do memorial em Westminster gerou polémica ainda na fase de planeamento. Apresentado pelo ex-primeiro-ministro conservador David Cameron em 2014, o projeto foi inicialmente rejeitado pelas autoridades locais em 2018, sob os argumentos de que a localização, no Hyde Park, é muito próxima a outros monumentos em Londres e de que não há espaço suficiente.

O governo do atual primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, conseguiu convencer as autoridades locais em 2019, mas a escolha do local também foi criticada por vários académicos.

Vários cientistas de universidades britânicas rejeitaram a construção de um memorial do Holocausto próximo a edifícios do governo e do Parlamento britânico em Westminster. Os especialistas temem que isso possa dar um peso exacerbado ao papel que o governo britânico da época desempenhou ao salvar judeus e outras vítimas dos nazis.

Em 2018, 42 investigadores assinaram uma carta aberta, entre eles a professora Shirli Gilbert, que pesquisa a história judaica na University College London.

A carta afirmava que os estudiosos temiam que o Reino Unido fosse retratar-se como uma vitoriosa nação com currículo repleto de salvamentos heroicos, o que não corresponde à pesquisa histórica.

Essa preocupação não é partilhada por Jean-Marc Dreyfus, historiador e professor de estudos do Holocausto na Universidade de Manchester.

“O esboço do memorial é muito vago para retratar o Reino Unido como uma heroica nação salvadora”, alegou, em entrevista à DW.

Mas Dreyfus considera exatamente isso como algo problemático. “O memorial não contém um símbolo da Shoah (Holocausto), é extremamente neutro por fora. Poderia também remeter a algo completamente diferente”.

Também não está claro a quem este memorial é dedicado: aos cidadãos judeus britânicos que fugiram para o Reino Unido, a todas as vítimas judias do Holocausto ou a todos os perseguidos pelos nazis.

Dreyfus diz acreditar que é preciso perceber que há uma ligação entre o novo memorial e o Brexit.

Segundo o especialista, ambas as decisões foram tomadas no mesmo contexto, no mesmo período de tempo e foram impulsionadas por governos conservadores.

Memória global do Holocausto

Andrea Löw, professora do Centro de Estudos do Holocausto em Munique, enfatizou em conversa com a DW o quão internacional é a memória da Shoah. Existem museus, instituições educacionais e memoriais na Cidade do Cabo, em Sydney, Budapeste, Israel, Washington, na América do Sul, exemplificou. Para Löw, pode-se falar numa recordação global do Holocausto.

Atualmente, segundo a historiadora, o foco principal é a importância de passar da recordação ritualizada à individual.

“Como historiadores, consideramos que a nossa tarefa é levar para a frente a mensagem das testemunhas que agora nos vão deixando”, diz.

Neste contexto, Dreyfus também destaca a importância do centro educacional que será construído no Hyde Park de Londres. “Esta é uma boa notícia para a recordação da Shoah, que deve continuar”, afirma.

Dreyfus espera que o centro desencadeie um debate mais histórico e baseado em factos no país. Este ainda não é o caso: a recordação britânica do Holocausto começou apenas nas décadas de 1990 e 2000 e sempre ostentou um caráter vago, refere o historiador.

Por sua vez, a historiadora alemã Löw também enfatiza a grande importância dos centros educacionais complementares a memoriais do Holocausto em muitos sítios do mundo.

O memorial britânico e o associado centro educacional serão construídos em Londres com base num projeto dos escritórios de arquitetura Adjaye Associates, Ron Arad Architects e Gustafson Porter+Bowman.

O início da obra está agendado para este ano, e o planeamento indica que o memorial deverá estar concluído e ser aberto ao público em 2025.

ZAP // DW

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