// Circle Internet Group; nmmobile789 / Depositphotos

A empresa de criptomoedas Circle está a ser valorizada em Wall Street como se fosse a próxima grande novidade tecnológica. O seu modelo de negócio é peculiar: dá um token a troco de um dólar — e fica com os juros.
Algo estranho está a acontecer em Wall Street. Não é Elon Musk, IA, ou mais um post bizarro de Donald Trump, conta o Gizmodo.
Trata-se de uma empresa de criptomoedas chamada Circle Internet Group, que está a fazer o mercado sentir-se como se os dias gloriosos da bolha das “dot.com” tivessem voltado.
A Circle entrou em bolsa no início deste mês, a 5 de junho. Em apenas onze sessões de negociação, as suas ações registaram uma subida sem precedentes de 675%, acrescentando mais de 37 mil milhões de euros à sua capitalização de mercado.
A empresa tem agora uma avaliação que a coloca no mesmo patamar que os unicórnios tecnológicos e os projetos lunares de IA.
Há apenas um problema. A Circle não tem uma IA revolucionária; não constrói gadgets elegantes para consumidores; não inventou uma nova bateria nem descobriu o segredo da fusão nuclear; basicamente, não faz nada.
O seu modelo de negócio é chocantemente simples: alguém dá à Circle um dólar, e recebe em troca um token digital, chamado USDC, no valor desse mesmo dolár. A Circel pega no dólar real, investe-o em algo seguro como obrigações do Tesouro de curto prazo, e fica com os juros.
A pessoa fica com o token. A Cricle fica com o lucro. É tudo.
Alguns críticos consideram que a Circle Internet Group é pouco mais do que um “embrulhador de dinheiro” glorificado. Então porque é que Wall Street está a tratar a empresa como se fosse a próxima Tesla?
A resposta é uma palavra: stablecoin. O USDC é uma stablecoin, um token digital indexado a um ativo estável — neste caso, o dólar americano.
A ideia é que para cada token USDC, há um dólar real numa conta de reserva. Isto torna-o incrivelmente útil para negociantes de criptomoedas que precisam da velocidade dos ativos digitais sem a volatilidade selvagem das Bitcoins.
Os investidores em Wall Street parecem assim estar a apostar que as stablecoins estão prestes a tornar-se mainstream.
Recentemente, o Senado norte-americano aprovar o “Genius Act“, legislação histórica que abre caminho a que bancos e fintechs como o PayPal, e até retalhistas como Walmart e Amazon, usem stablecoins para pagamentos.
Subitamente, diz o Gizmodo, o sonho de as criptomoedas se tornarem uma alternativa real à Visa ou Mastercard parece estar ao alcance.
O Citigroup prevê que o mercado de stablecoins possa atingir 3,3 biliões de euros até 2030. Nesse cenário, a Circle, como plataforma neutra não ligada a nenhum banco específico, está perfeitamente posicionada para recolher lucros consideráveis.
Mas há um senão. Este modelo de negócio,. que parece brilhante num ambiente de taxas de juro altas, é também a sua maior fraqueza. Se a Reserva Federal cortar as taxas, a principal fonte de receita da Circle encolhe.
“Todo o negócio da Circle está literalmente colado à política da Fed“, escreveu um utilizador numa publicação viral no r/wallstreetbets do Reddit. “Isto é na prática um ETF do Tesouro disfarçado“.
Também não há nada que impeça empresas maiores de lançar as suas próprias stablecoins semelhantes, apagando a vantagem da oferta diferenciadora da Circle da noite para o dia.
E ainda assim, Wall Street está a investir como se fosse a próxima OpenAI. E se os reguladores mudarem de opinião? Todo o modelo poderia estar em risco. O negócio é notavelmente frágil.
Por agora, a moda Circle pegou — e as suas ações continuam em alta, alimentadas pela promessa de um futuro onde todos pagamos o café com euros digitais.
Mas por baixo da superfície, esta empresa singular, valorizada em 44 mil milhões de euros, não inova, não revoluciona, nem perturba. Apenas guarda dinheiro, dá um recibo digital, e fica com os juros.
E no mundo bizarro das finanças de 2025, isso aparentemente é suficiente para ser coroada a nova rainha de Wall Street.