Mega-tsunami como o de 1755: não é se, é quando. Lisboa está “extremamente preparada”?

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Museu Nacional de Arte Antiga / Wikipedia

“Alegoria ao Terramoto de 1755”, por João Glama Strobërle.

O presidente da Câmara de Lisboa disse esta quarta-feira que a cidade está “extremamente preparada” para a possibilidade de um sismo como o que aconteceu na segunda-feira na Turquia e na Síria, inclusive com um sistema de alerta de tsunami. Alguns especialistas discordam.

Como engenheiro civil e como “alguém que trabalhou nesta área”, diz Carlos Moedas, “depois dos anos de 1980, Lisboa está extremamente preparada” para um sismo como o que  aconteceu na segunda-feira na Turquia e na Síria.

“Infelizmente não nos bairros mais antigos, mas muito, muito, preparada em termos de engenharia e de construção”, declarou o autarca.

“Gostava de deixar aqui alguma tranquilidade sobre a preparação que Lisboa tem em relação a potenciais sismos, e todos nós sabemos que vivemos numa zona do país em que estes sismos podem acontecer“, declarou Carlos Moedas (PSD).

O autarca falava numa reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa, após ter sido questionado por um munícipe sobre o que está a ser feito para precaver a possibilidade de ocorrência de um sismo como o que ocorreu na segunda-feira — uma vez que a cidade se encontra em zona de risco sísmico.

Acredito que existam planos de emergência, mas acho que isso não chega à população, pelo menos eu não tenho conhecimento”, afirmou o munícipe Henrique Sousa, questionando sobre a sensibilização da população, a realização de simulacros e a definição de medidas de preparação, inclusive o que fazer e onde se dirigir no caso da ocorrência de um sismo.

Em resposta, o presidente da câmara disse que Lisboa tem um programa municipal de promoção da resiliência sísmica do parque edificado privado e municipal e infraestruturas urbanas municipais, denominado ReSist, para “reforçar toda a proteção sísmica dos edifícios”, incluindo “o mapeamento de todos os edifícios que não estão ainda reforçados”.

A Câmara de Lisboa tem “distribuído muitos ‘kits’ de emergência” e tem estado nas escolas, existindo “todo um trabalho da Proteção Civil”, frisou Carlos Moedas, indicando que “são muitas” as atividades de preparação da cidade para o risco.

O autarca destacou a implementação do Sistema de Aviso e Alerta de Tsunami no Estuário do Tejo, com a instalação de sirenes na Praça do Império e na Ribeira das Naus e a definição de percursos de evacuação.

“Se houver alguma catástrofe deste género em Lisboa”, diz o autarca, isso implicaria também um tsunami“.

Não é ‘se’, mas  ‘quando’

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não concorda com uma “visão pessimista” sobre o assunto, e disse hoje “não fazer sentido o alarmismo” quanto aos eventuais efeitos de um sismo nas zonas mais suscetíveis do país.

O chefe de Estado considera que “só depois de ouvir os especialistas se verá exatamente, e sem alarmismos, que questões podem ocorrer precisamente numa situação específica ou de forma mais geral”.

Na realidade, os especialistas e peritos, que têm estado a ser ouvidos — e a tentar fazer-se ouvir — são unânimes em considerar que o risco de um tsunami como o que dizimou Lisboa em 1755 voltar a acontecer é real. Vai acontecer um dia, apenas não é possível prever em que dia ou ano. Pode ser amanhã.

“Não é uma questão de se, mas de quando”, salientou o ano passado a secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, em entrevista ao Expresso. E “nenhum país está 100% preparado”, considera a governante.

Portugal é um país com risco de tsunamis e sismos, sendo a costa algarvia e oeste até Peniche consideradas “zonas mais críticas”, realça Patrícia Gaspar.

O impacto seria gigante, com várias “vítimas” e “danos”. Apesar de tudo, estamos hoje “garantidamente mais preparados e mais capazes de reagir a uma situação destas do que estávamos há 10, 20 ou 30 anos atrás”, argumenta a secretária de Estado.

“Não vai existir um dia em que alguém possa dizer que estamos 100% preparados. Isso é um conceito que não existe em Proteção Civil”, acrescentou.

Quando o sismo acontecer, “o aviso não vai chegar com horas ou dias de antecedência, mas sim uns minutos antes — que podem permitir salvar vidas”. Uma vez identificado o risco, a Proteção Civil alerta a população por SMS e, dependendo do município, vão ouvir-se sirenes.

A 1 de Novembro de 1755, no Dia de Todos os Santos, com milhares de velas acesas nas casas, capelas e igrejas, um choque de placas tectónicas ao largo de Lisboa provocou um terramoto que resultou na destruição quase completa da cidade de Lisboa, afetando ainda grande parte do litoral do Algarve e Setúbal.

O sismo foi seguido por um tsunami — que se acredita ter atingido 20 metros de altura — e por múltiplos incêndios, tendo feito mais de 10 mil mortos. Foi um dos sismos mais mortíferos da História.

Em 2015, peritos do IERD – Instituto Espanhol para a Redução de Desastres, garantiram que um evento de magnitude semelhante pode acontecer de novo, embora ainda não seja claro quando, e “não estamos preparados“.

“Os tsunamis são raros, mas podem ser extremamente mortíferos. Nos últimos cem anos, 58 tsunamis causaram mais de 260 mil mortes, uma média de 4600 por desastre, superando qualquer outro perigo natural”, alerta Mami Mizutori, especialista do Gabinete da ONU para a Redução dos Riscos de Desastres.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Ninguém quer verdadeiramente saber.
    No dia que acontecer serão, esperam eles, outros a ocupar o lugar de governo, quer local, quer nacional.
    E depois será azar.
    É tipo o imposto que os Turcos pagam desde 1999 para sismos e que agora ninguém sabe onde para.

  2. Temos um organismo que se designa por PROTEÇÃO CIVIL e eu pergunto quantos simulacros de sismos se fez com a população e com serviços e organismos ligados à proteção civil? Há bem pouco tempo ocorreram cheias em vários locais no país que é uma situação que ocorre periodicamente e como se viu ninguém estava preparado.

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