Médicos portugueses ganham cada vez menos: poder de compra caiu 18% desde 2010

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António Pedro Santos / Lusa

A análise das remunerações dos médicos em Portugal expõe um quadro revelador e preocupante: desde 2010, os salários dos especialistas em Portugal diminuiu de 57.021 euros para 42.401 euros por ano.

Dados da OCDE mostram que, entre 2010 e 2022, a remuneração média anual dos médicos especialistas em Portugal caiu de 57.021 euros para 42.401 euros. Ajustando à inflação do período — 20,5%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE) — esta diminuição é ainda mais significativa. A análise é do economista ligado à CGTP Eugénio Rosa, a par do Público.

Comparativamente, os médicos especialistas portugueses ganhavam, em 2021, menos 44,4% do que os espanhóis, menos 71,3% do que os alemães, e menos 39% do que os eslovenos.

As remunerações dos médicos em Portugal são, no entanto, mais elevadas do que em alguns países da América Latina, como o México e a Colômbia, refere o economista, observando que fica, assim, “clara a razão por que Pizarro [o ministro da Saúde] anunciou a intenção do governo de contratar médicos” oriundos de países daquela região.

O rendimento médio mensal dos médicos em Portugal caiu cerca de 5% na última década, uma perda de 18% do poder de compra face a 2011, segundo dados da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa — um fenómeno que pode ser explicado pelas chorudas remunerações dos profissionais seniores e pelo maior volume de reformas.

“Subfinanciamento crónico” do SNS

Outro aspeto preocupante é o “subfinanciamento crónico” do Sistema Nacional de Saúde (SNS) em Portugal. Os números mais recentes do Ministério das Finanças revelam que a despesa com pessoal cresceu 11,2% no primeiro semestre de 2023, muito acima do previsto. Além disso, a dívida total do SNS a fornecedores privados aumentou, passando de 1618 milhões de euros em dezembro para 1949 milhões de euros em maio.

Valores que foram “certamente determinados pelo recurso a horas extraordinárias devido à falta de pessoal” e não incluem “a contratação de médicos a empresas privadas cuja despesa deve ser contabilizada em “aquisições de serviços”, diz o economista.

Eugénio Rosa lembra que “a maior parte do investimento inscrito no orçamento do SNS para 2023 não será realizado”.

A situação revela uma divergência notável entre Portugal e outros países da UE e da OCDE e deixa Portugal em desvantagem em termos de competitividade e qualidade dos cuidados de saúde. O Ministério da Saúde e das Finanças estão atualmente em negociações com as estruturas sindicais representativas dos médicos para aumentos salariais.

ZAP //

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3 Comments

  1. Não se pode comparar a remuneração dos médicos portugueses com os alemães, Ingleses, franceses, etc pelo mesmo motivo que também não é válido comparar os salários de enfermeiros, professores, etc. São economias completamente diferentes, com níveis de vida muito diferentes.

  2. Expliquem-me como é que andam sempre bem montados em grandes carros e vivem em bons apartamentos em condominios… mostrem la esses recibos de ordenado liquido, a soma de todos os rendimentos liquidos do mês. Nao vale mostrarem o recibo de meia duzia de horas que fizeram em Santa Maria, mostrem a soma liquida de todos os rendimentos no mês.

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