Medicamentos reaproveitados vão tratar doentes com cancro no IPO

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Primeira Cátedra de Inovação em Oncologia já pediu autorização para avançar com ensaio clínico em doentes do IPO Porto.

Segundo o Jornal de Notícias, a primeira Cátedra Convidada de Inovação em Oncologia do país, promovida pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), está focada no reaproveitamento de fármacos para tratamento do cancro.

Conjugados com os medicamentos de referência para Oncologia, os fármacos aumentam a eficácia na destruição de células tumorais.

Já foi pedida autorização à Comissão de Ética para avançar com um ensaio clínico em 500 doentes do IPO do Porto.

Lançada em julho passado, a Cátedra tem suporte no OncoPharma, grupo de investigação em Farmacoterapêutica Oncológica do CINTESIS/FMUP, ambos liderados e criados por Nuno Vale, sendo financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela Janssen em 330 mil euros.

No total, conta com uma equipa de 15 investigadores, três dos quais bolseiros contratados no ano passado.

O trabalho de investigação assenta em dois eixos principais: reaproveitamento de fármacos e estudos in silico (simulação).

A covid-19 ajuda a explicar o primeiro, quando se estudou e aprovou o uso da dexametasona (medicamento corticosteroide) no tratamento de doentes graves (em suporte ventilatório) com infeção por SARS-CoV-2.

O princípio é o mesmo, mas aplicado à Oncologia. “Comparamos um fármaco de referência em Oncologia com um fármaco para outra terapêutica, por exemplo um antiviral, para percebermos o efeito desses fármacos combinados”, explica Nuno Vale.

Sendo esse efeito promissor, é “testado em células modelo de cancro, de vários tipos”, acrescenta.

As mais-valias são múltiplas, vinca: “Permite baixar os custos nos estudos clínicos, acelerar o processo e chegar a um maior número de pessoas“.

Mas a principal está nos resultados, na medida em que o uso combinado de medicamentos “aumenta a eficácia — a morte de células tumorais — em 60% a 70%”.

Doentes do IPO

Neste momento, diz o cientista, foi “submetida à Comissão de Ética uma proposta de ensaio clínico com o Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto”, que espera ver aprovado, “para começar com cerca de 500 doentes“.

Não podendo revelar muito sobre este ensaio, que decorre no âmbito de um doutoramento, adianta tratar-se da administração de um fármaco reaproveitado, numa segunda fase já em combinação, com aqueles doentes.

Projeto este que conta ainda com a participação de investigadores do Hospital de S. João, num trabalho em rede entre as três instituições.

“A ideia é fazer o estudo completo, não é parar só na bancada”, razão pela qual, garante Nuno Vale, a Cátedra é inédita em Portugal e na Europa, porque abarca “estudos pré-clínicos, clínicos e translação“. Com o propósito firme de “acelerar os tratamentos em Oncologia”.

Salvaguardar animais

O segundo eixo são os estudos in silico ou de simulação, que assentam num software utilizado pela FDA, agência norte-americana do medicamento.

“A simulação, com dados de farmacologia e também fisiológicos, permite ajustar a dose antes de chegarmos ao animal”, o que leva a “sacrificar menos animais nos estudos pré-clínicos”.

Mas não só, frisa o titular da Cátedra. “Permite realizar estudos de população, de monitorização de dose e de feitos adversos, permitindo otimizar as doses, escolher melhor os doentes e alargar os estudos a um maior número de pacientes, o que é ótimo na Oncologia para avançar em muitos tratamentos”.

Estando já em submissão, revela Nuno Vale, um projeto de “18 meses para avançar com estudos de cancro do cólon e mama para testar seis a sete combinações muito promissoras, cujos resultados foram muito importantes”. O primeiro passo, diz, são, precisamente, os estudos de simulação.

Em termos de estudos da Cátedra, os mais avançados, neste momento, são os cancros da mama, cólon e pâncreas.

Estão ainda a arrancar “outro projeto que envolve pulmão, bexiga e estômago, num estudo com fármacos reaproveitados, apenas de antivirais”, explica Nuno Vale.

Com início a 1 de julho de 2021, a Cátedra tem a duração de três anos, podendo ser renovada, mediante as avaliações, por mais três.

A formação é uma peça-chave da Cátedra, tanto mais que o promotor é a Faculdade de Medicina. Com aulas, seminários, mas também cursos de educação avançada relacionados com áreas específicas da Cátedra.

ZAP //

1 Comment

  1. O marido da minha irmã morreu com cancro do pulmão, tendo sobrado diversas caixas de medicamentos dentro dos respetivos prazos, ela dirigiu-se ao hospital da sua área de residência com a finalidade de os entregar para que fossem entregues a quem precisasse dele acabando por serem recusados.
    O que levou ao desperdício tendo o estado que gastar mais dinheiro em novos medicamentos.
    Penso que se deveria fazer uma reflexão sobre o assunto pois somos nós que pagamos isto tudo.

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