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Investigação portuguesa pioneira: matemática contribui para o sucesso no futebol

Padrões dos adversários analisados de uma forma diferente. Computador identifica melhor do que pessoas, defende investigador do Iscte.

As equipas técnicas no futebol poderiam utilizar a matemática de outra forma e, assim, aumentar a probabilidade de sucesso da sua equipa.

A tese (literal) é defendida por Luís Ramada Pereira, professor e investigador no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, na sua tese de doutoramento Communities in Temporal Networks: From theoretical underpinnings to real-life applications.

Traduzindo, o documento centra-se nas comunidades em redes temporais: das bases teóricas às aplicações na vida real.

Luís focou-se na teoria de redes – conceito científico multidisciplinar de base matemática – para analisar jogos de futebol e identificar padrões nos jogos.

Essa teoria costuma ser utilizada noutras áreas (estudo dos fluxos financeiros ou das cadeias logísticas).

As redes são sistemas compostos por nós interligados: no caso da tese de Luís Ramada Pereira, cada jogador corresponde a um e as interligações às suas interações em campo.

Neste contexto, a teoria de redes serviu para analisar a evolução da posição dos jogadores de futebol durante jogos.

A análise foi feita a uma equipa (não identificada) da Premier League ao longo de nove jogos, entre 2010 e 2011.

Os dados foram recolhidos por câmaras que fizeram uma triangulação completa da posição e dos movimentos dos jogadores.

A partir daí foram identificados padrões de comportamento dos jogadores, úteis para criar planos de treino e tácticas para enfrentar os adversários.

“O objectivo é extrair e analisar dados que podem ser interessantes para um treinador de futebol, uma vez que existem padrões na maneira como os jogadores se comportam em campo: esses padrões são mais facilmente identificados por modelos de computador do que por pessoas”, lembrou Luís Ramada Pereira.

A explicação prossegue: “Se jogadores de uma dada equipa interagem de certa forma em vários jogos, por exemplo, o treinador adversário pode fazer inferências sobre as suas configurações mais frequentes, os padrões que costumam seguir e as suas fragilidades. Com base nisso, pode delinear para os seus jogadores um plano de treino fundamentado nas métricas recolhidas, aumentando assim as possibilidades de sucesso”.

Uma investigação pioneira, já que juntou a teoria da informação e a teoria de redes para medir o dinamismo dos jogos de futebol por observação automática dos jogadores em campo.

Contrariando as medidas absolutas – como distâncias percorridas ou número de passes bem-sucedidos – com estas métricas “é possível distinguir entre esforço produtivo e aquele que é eficazmente contrariado pela equipa adversária”.

“A aplicação da matemática ao futebol contribui muito para a probabilidade de sucesso”, acredita o investigador, que sugere que este estudo pode também ajudar treinadores de râguebi e basquetebol, entre outros sectores.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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