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Matar a fome é mais urgente que procurar emprego

ABr

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Com a fome a bater à porta, o emprego deixou de ser prioritário para as pessoas que hoje recorrem à AMI e cuja maior preocupação é garantir comida na mesa, disse à Lusa a diretora da Ação Social.

“O maior problema que as pessoas nos apresentam a nível nacional é a alimentação. O emprego já não é a prioridade, porque, neste momento, elas estão com fome em casa”, adiantou Ana Martins. Assim, sublinhou, “antes de procurarem emprego, procuram comida para elas e, sobretudo, para os filhos”.

Para a distribuição de alimentos, a AMI tem recorrido ao programa comunitário de ajuda alimentar e conta com a doação de supermercados e de particulares.

Mas, com o aumento dos pedidos, Ana Martins apelou aos portugueses para que entreguem bens alimentares nos equipamentos sociais da AMI espalhados pelo país. “É uma grande necessidade que temos e a melhor forma de apoiar as pessoas que recorrem à AMI”, frisou.

Além do problema da fome, os centros da AMI diagnosticaram também o problema da segurança, com que têm de lidar diariamente. “O número de pessoas aumentou nos centros, o que provoca também problemas de segurança” entre os beneficiários e as equipas técnicas. Estas equipas, adianta, “são diminutas e têm de gerir o real, que são os números a crescer e os recursos a manterem-se e nalguns casos a diminuir”.

Desde 2008 que os pedidos de apoio à Assistência Médica Internacional têm vindo a crescer, refletindo “o efeito da crise que assola” o país. Nesse ano, estavam inscritos cerca de sete mil beneficiários, número que subiu para 15.800 em 2013 (mais 112%).

“São números quer em termos quantitativos, mas sobretudo em termos qualitativos, que mostram a gravidade desta crise social, porque não é só os números que aumentam é também a complexidade e a gravidade das situações com que temos de nos debater todos os dias”, sublinhou.

Estes problemas resultam do desemprego e das carências alimentares, que “provocam outro tipo de deficiência ao nível da saúde” e de assegurar o pagamento da renda da casa, da luz e da água”. “Com o desemprego e a falta de proteção na saúde e na proteção social todos estes problemas que já tínhamos (…) vieram a agravar-se com esta crise mais profunda dos últimos anos”.

Esta situação criou uma nova tipologia de pobres, que têm chegado em “grande número” à AMI a pedir ajuda porque vão ser despejados ou por terem a água e a luz cortadas.

Para a responsável, é “urgente repensar as políticas da habitação em Portugal”, sobretudo na questão do endividamento à banca das famílias. “São milhares de portugueses que têm muitas dificuldades” e alguns não conseguem mesmo pagar a casa, disse, advertindo que “não é um problema pontual”, mas estrutural.

Ana Martins alerta que “se ninguém tomar medidas a curto prazo as famílias irão parar, senão à rua, a respostas menos significantes da estrutura familiar e da família”.

Há abrigo para homens, para mulheres e “muito poucas ou quase nenhumas respostas, pelo menos dignificantes, que permitam a um casal que seja despejado viver junto”.

/Lusa

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