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Tantas Marias e tantos Franciscos. O que explica as modas cíclicas dos nomes para bebés?

Uma equipa de investigadores criou um modelo matemático e analisou as redes sociais comunitárias para tentar desvendar o que explica as modas dos nomes dados aos bebés.

Nos últimos anos, Portugal deu a boas-vindas a muitas Marias, Leonores e Matildes e também imensos Franciscos, Rodrigos ou Afonsos. Mas o fenómeno das modas dos nomes de bebés que dominam durante alguns anos e depois voltam a cair em desuso está longe de se limitar ao no nosso país, tanto que intrigou uma equipa de investigadores da Universidade de Carnegie Mellon (CMU).

A equipa desenvolveu um modelo matemático para entender porque é que estes padrões comportamentais estão em constante mudança e também para decifrar o conflito dos pais entre a escolha de um nome que não seja demasiado comum, mas que ao mesmo tempo não seja tão estranho que seja alvo de chacota social.

As razões por detrás da necessidade de conformidade e da tentativa de se ser mais diferente criam dinâmicas complexas quando as pessoas se observam numa rede social. O estudo foi publicado na Psychological Review.

“Sou curioso sobre tudo, mas não tenho noção nenhuma das tendências sociais”, revela Russell Golman, professor associado do Departamento de Ciências Sociais e Decisões da CMU. “O meu interesse foi suscitado por pensadores no ramo dos sistemas complexos que estudam dinâmicas de não-equilíbrio na economia e na sociedade”, cita o Phys.

A maioria dos modelos na teoria dos jogos e na economia assume que um sistema vai chegar a um equilíbrio a certo ponto e Goldman quis entender que factores podiam ser inseridos nestes modelos para que as tendências nos nomes mudassem e deixassem essa estagnação.

O desejo de integração social levaria, matematicamente, a que o comportamento da escolha de nomes se aproximasse da média do grupo, enquanto que a ambição de ser mais arrojado a afastaria da média.

“Colocando-os juntos, continuam a levar a um equilíbrio”, revela Goldman. Para se quebrar este dilema, a equipa de investigadores juntou as redes sociais à mistura — não as aplicações como o Facebook ou o Instagram, mas as redes criadas nas comunidades entre colegas, vizinhos, amigos, etc.

O resultado foi surpreendente, tendo-se notado uma grande diferença. “Modelamos as dinâmicas com muitas redes diferentes e não convergir com o equilíbrio é, na verdade, muito típico”, revela Goldman.

Para testarem o seu novo modelo, a estudante de doutoramento na CMU Erin Bugbee recorreu a enorme base de dados de nomes de bebé do último século gerida pela Administração de Segurança Social nos Estados Unidos. Verificou-se que esse equilíbrio não existe, já que os nomes mais populares mudam ao longo dos anos.

Com o aumento da popularidade de um nome, como Emily, os pais podem começar a optar por alternativas semelhantes, como Emma. Assim, escolhem um nome que não é tão incomum que seja visto como estranho, mas que é na mesma diferente da corrente. Muitos pais podem ter a mesma ideia, o que leva a que o número de bebés chamadas Emily comece a diminuir e o de Emmas aumente.

O estudo conclui que para se entender tendências culturais, como os nomes dados às crianças, é fundamental fazer-se uma análise à psicologia social e às redes sociais.

Em Portugal, os nomes para bebés mais populares em 2021, de acordo com os registos do Ministério da Justiça foram Maria (4599 bebés) e Francisco (1433 bebés). A fechar o top cinco para as meninas, ficam Leonor, Matilde, Alice e Carolina. Já João, Duarte, Afonso e Tomás foram também dos nomes mais escolhidos para os rapazes.

Adriana Peixoto, ZAP //

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