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Marega: “Senti-me como uma merda. Foi uma grande humilhação”

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Hugo Delgado / Lusa

Em entrevista à rádio francesa RMC, Moussa Marega desabafou sobre o episódio do jogo de domingo e disse que sentiu “uma merda” e que “foi uma grande humilhação”.

O caso de Marega no jogo de domingo, entre FC Porto e Vitória de Guimarães, ganhou proporções inesperadas e já percorre toda a imprensa internacional. O episódio reforçou a necessidade da erradicação do racismo não só do futebol português, mas também do futebol mundial.

Esta segunda-feira, Moussa Marega falou à rádio francesa RMC sobre o que se passou e aquilo que o levou a abandonar o campo num encontro contra uma equipa “que sempre respeitou”.

Senti-me, verdadeiramente, como uma merda. Foi uma grande humilhação para mim, tocou-me muito. Recebi muitas mensagens de apoio, de todo o lado, que me deram uma força incrível. Agradeço, desde já, a todas essas pessoas”, começou por dizer o jogador portista.

O internacional maliano também aproveitou para defender os colegas de equipa que alguns criticam por terem tentado evitar que este abandonasse o campo. Marega explica que os seus parceiros ficaram “chocados” e que a primeira reação deles foi tentar acalmá-lo.

Um dos mais críticos aos jogadores do FC Porto foi o ex-futebolista Shaun Wright-Phillips. Em declarações à Sky Sports, o britânico acusou os companheiros de equipa de Marega de não terem apoiado a sua decisão de abandonar o campo.

“Pessoalmente, se abandonar o relvado com os meus companheiros de equipa, estou disposto a dar o peito às balas e a colocar a minha fé neles. Não desejaria nada mais em troca”, disse Wright-Phillips.

“Se isso acontecesse e sentisse a necessidade de abandonar o relvado, esperaria que os meus companheiros de equipa me apoiassem. Mas eles pareceram não o fazer, o que foi bastante doloroso de ver, especialmente para ele. Não consigo imaginar quão sozinho ele se terá sentido naquele momento”, acrescentou.

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Questionado sobre o que gostaria que tivesse acontecido após serem ouvidos os cânticos racistas, Marega admitiu que gostava que a partida tivesse sido interrompida. “É certo que o jogo deveria ter sido interrompido. Esperava que tivesse havido uma reação forte da parte dos árbitros, espero que haja um gesto forte da parte da Liga”, atirou.

“O que me choca mais é que, sinceramente, nunca imaginei que isto pudesse acontecer em Guimarães. Sempre respeitei o clube e os adeptos. Passei a época de 2014/15 com eles. Fomos à final da Taça de Portugal, qualificámo-nos para a Liga Europa e foi a melhor época da história do clube. Dei tudo pelo clube e sempre os respeitei totalmente. O que aconteceu chocou-me, porque sempre pensei que este clube tem bons princípios”, disse, citado pela Tribuna Expresso.

Relativamente às declarações do presidente vimaranense, que disse não se ter apercebido dos insultos racistas dirigidos a Moussa Marega, o atleta dos ‘azuis e brancos’ foi assertivo e considerou ser uma parvoíce.

É uma parvoíce. Em primeiro lugar, não conheço de todo este presidente. O facto de ele ser novo… Ele fará tudo para ter os adeptos do seu lado. Acho que ele não seria honesto com eles. Se ele for esperto o suficiente, perceberá… Porque haveria eu de mostrar a cor da minha pele quando marquei? Não foi a primeira vez que marquei contra o Vitória de Guimarães. Porque iria mostrar a cor da minha pele? Como eu disse, começou durante o aquecimento e continuou durante todo o jogo”, explicou o avançado.

Vitória vai colaborar com a PSP

A PSP já tinha confirmado que estava a tentar identificar os adeptos suspeitos da autoria dos insultos racistas e xenófobos, que constituem infrações criminais e contraordenacionais. O Código Penal prevê uma pena de prisão de seis meses a cinco anos.

“A prática de atos ou o incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espetáculos desportivos”pode também ser punida com uma multa entre 1.000 e 10.000 euros.

O Vitória de Guimarães anunciou esta segunda-feira que vai colaborar com Polícia de Segurança Pública e Procuradoria-Geral da República para identificar os responsáveis dos atos racistas contra Marega.

“Em face das posições publicamente assumidas pela Polícia de Segurança Pública e pela Procuradoria-Geral da República, o Vitória reitera a sua total disponibilidade para colaborar ativamente na identificação dos verdadeiros responsáveis pela ocorrência de racismo ou discriminação no Estádio D. Afonso Henriques, para o que apela ainda à cooperação dos seus adeptos e associados”, lê-se no comunicado publicado no sítio oficial.

O clube vincou ainda a “intenção de se constituir assistente no âmbito dos processos desencadeados pelas autoridades judiciais competentes”, tendo ainda confirmado a “disponibilização das imagens do sistema CCTV do recinto desportivo”, que “não se avariou e se mantém em bom estado de funcionamento”.

O Vitória de Guimarães frisou ainda que “o racismo é um ato de traição à fundação do clube”, perante o qual, acrescentou, o clube e os seus adeptos serão “verdadeiramente implacáveis”, mas criticou as “declarações simplistas de repúdio e censura seletivas” de “entidades com responsabilidade governativa” sobre um problema de “dimensão nacional”, que “se repete há vários anos em diversos estádios”.

“Não é admissível pretender que o Vitória vista a ‘pele de lobo’ defronte um problema social que já conheceu condenações efetivas no plano desportivo nacional e internacional, contando embora com o silêncio e a parcimónia de todos os órgãos e entidades que agora prontamente se pronunciaram. São conhecidos os casos de racismo, de glorificação da morte, de homicídio, de violência e de discriminação no futebol português, todos sem a indignação correspondente”, lê-se.

O Vitória disse ainda ter sido alvo de uma “gravosa desconsideração institucional pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional”, por ter ignorado “a posição de censura e a condenação sobre os acontecimentos em causa” que o clube fez, ao mesmo tempo que divulgou as posições dos restantes clubes nas redes sociais.

O clube de Guimarães considerou ainda necessária a “promoção de um desporto igual e universal, sem lugar nem tempo para a violência, racismo, xenofobia, intolerância ou discriminação, ao lado de todos e com todos”.

O racismo no futebol não é nada de novo e continua a manchar alguns dos campeonatos mais prestigiados do mundo. Desde Shade Pratt, a jogador do Sporting de Braga alvo de insultos racistas, a Taison, que foi insultado e acabou por fazer um gesto idêntico a Marega, os casos multiplicam-se no mundo do futebol.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. O Jogador Daniel Alves tirou e tiraria isso de letra. O principal atributo de um jogador não é só um bom preparo físico, o emocional também.

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