Marcelo diz o que diz, porque “é um homem solitário”

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Mário Cruz / Lusa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém

Para Marcelo Rebelo de Sousa, o Palácio de Belém é um lugar de “solidão”. Tal posição pode estar a fazer o Presidente da República dizer o que jamais diria enquanto comentador — com um desfecho possivelmente “dramático”.

Esta terça-feira, num jantar com jornalistas internacionais, da Associação de Imprensa Estrangeira em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa fez declarações sobre Luís Montenegro, António Costa e o passado colonial português que o deixaram “debaixo de fogo”.

O Presidente da República assumiu a culpa de Portugal pelos crimes cometidos durante o comércio transatlântico de escravos e a era colonial, tendo sugerido que o país tem de “pagar os custos” da escravatura e dos crimes coloniais.

Sobre Luís Montenegro, o presidente terá dito que “é uma pessoa que vem de um país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais. É muito curioso, difícil de entender, precisamente por causa disso”.

Já “António Costa era lento, por ser oriental. Montenegro não é oriental, mas é lento, tem o tempo do país rural, embora urbanizado”, terá acrescentado Marcelo Rebelo de Sousa.

Tais palavras chocaram os representantes políticos portugueses – da esquerda à direita – e deixaram o Chefe de Estado sob um clima de tensão, durante as celebrações do 25 de abril.

Esta quarta-feira, o Presidente da República confirmou as afirmações que lhe foram atribuídas, mas considerou que não fez apreciações ofensivas e que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, “vai surpreender” – mas, ao longo do dia das celebrações, Marcelo não disse muito mais.

Sem noção de espaço e tempo

Na reunião com jornalistas estrangeiros, Marcelo terá falado quatro horas, sobre pontos “confidenciais”, que, para o jornalista Luís Pedro Nunes, só se devem ter com amigos – e “não com o Mundo inteiro”.

No programa Eixo do Mal da SIC, Luís Pedro Nunes considerou que Marcelo cometeu um dos maiores erros da sua presidência, fertilizando mais um terreno para o alastramento do discurso do Chega: “Ele destapou a caixa de pandora de ‘reparações históricas’ a pagar (…) isto foi uma nova frente que abriu para o Chega e que é apetitosíssima e que vai ter adesão (…) a ideia de que não se deve ter vergonha da história é altamente eficaz em discursos e propaganda”.

No mesmo painel, Clara Ferreira Alves descreveu, desde logo, esta situação como “grave, referindo que, por vezes, as figuras “Marcelo” e “Presidente da República” se desassociam.

No entanto, a jornalista considera que “nem o Marcelo comentador” teria proferido opiniões daquele teor: “ele era muito mais inteligente e diplomático do que isto (…) estas declarações são brutais…“.

Clara Ferreira Alves apontou a solidão como o principal responsável por esta fase de Marcelo: “Eu tenho afeto por Marcelo Rebelo de Sousa, mas eu acho que ele é um homem muito só, neste momento (…) o poder dá uma enorme solidão (…) ele tem uma longuíssima carreira política – e essa carreira, sobretudo este último cargo, isolou-o ainda mais”.

A jornalista diz que o atual Chefe de Estado perde a noção de espaço e tempo neste tipo de encontros, naquilo que considera ser uma consequência da presidência: “O Palácio de Belém é um lugar extraordinariamente solitário, portanto ele conversa, mas esquece-se, durante as conversas, do tempo e do lugar destas conversas. E isto pode ter um desfecho dramático, sobre tudo para ele”.

Miguel Esteves, ZAP //

6 Comments

  1. Quantas pessoas que votaram neste ser boçal saberiam que ele era afilhado do Marcelo Caetano e filho de um ministro do Estado Novo?

  2. Concordo com a jornalista Clara Ferreira Alves no seu comentário quando diz que, por vezes, as figuras ” Marcelo ” e ” Presidente da República” se desassociam. Eu entendo que são muitas as vezes, porque ele não quer estar calado ! Porque chega a ofender pessoas e o País. É claro que ele se vê na TV e ouve sugestões, não arrisco dizer conselhos, dos seus colaboradores, pessoas ligadas à Presidência que lhe devem dizer para ter alguma cautela nas suas opiniões ou comentários. E, que, desempenha funções de Chefe do Estado. Não, ele procura os microfones da Comunicação Social para falar o que quer.

  3. O jornalista Luis Pedro Nunes disse no programa Eixo do Mal que o Presidente da República esteve quatro horas a falar com os jornalistas !!!!! Como ? Mas, ainda há paciência ??? Se, o teu cargo e local é solitário, então não te recandidatasses !!!

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