Mudanças dramáticas causadas pelo Homem no cocktail químico do sargaço transformaram este organismo vivo num habitante de uma tóxica “zona morta”.
O Mar dos Sargaços é uma região no meio do Atlântico Norte, cercada por correntes oceânicas. Durante vários séculos, o sargaço cresceu nas águas cheias de nutrientes do Oceano Atlântico Norte, apoiado por fontes naturais de nutrientes, como peixes e excreções de invertebrados, afloramentos e fixação de nitrogénio.
Usando uma linha de base histórica única da década de 1980 e comparando-a com amostras recolhidas desde 2010, cientistas da Florida Atlantic University descobriram mudanças dramáticas na química e na composição do sargaço, transformando este organismo vivo num habitante de uma tóxica “zona morta”.
Segundo o EurekAlert, a investigação sugere que o aumento da disponibilidade de nitrogénio de fontes naturais e antropogénicas, incluindo águas residuais, estimula a proliferação do sargaço e transforma o habitat crítico em florações de algas prejudiciais com impactos catastróficos nos ecossistemas, costas, economias e saúde humana.
A comparação dos dados mostra que a percentagem de nitrogénio (N) aumentou significativamente (35%), ao mesmo tempo que se verificou uma diminuição na percentagem de fósforo (42%) no tecido de sargaço da década de 1980 a 2010.
A maior mudança foi a razão nitrogénio:fósforo (N:P), que aumentou significativamente (111%). As relações carbono:fósforo (C:P) também aumentaram de forma semelhante (78%).
Devido às emissões antropogénicas de óxidos de nitrogénio (NOx), a taxa de deposição de NOx é, aproximadamente, cinco vezes maior do que a da era pré-industrial, em grande parte devido à produção de energia e queima de biomassa.
Por outro lado, a produção de nitrogénio de fertilizantes sintéticos aumentou nove vezes, enquanto a produção de fosfato triplicou desde a década de 1980, contribuindo para um aumento geral na proporção de nitrogénio para fósforo.
“O recém-formado Grande Cinturão de Sargaço do Atlântico pode ser sustentado por entradas de nitrogénio e fósforo de uma variedade de fontes, incluindo descargas dos rios Congo, Amazonas e Mississippi, afloramentos na costa de África, mistura vertical, ressurgência equatorial, deposição atmosférica de poeira do Saara e queima de biomassa da vegetação na África Central e do Sul”, enumerou o investigador Brian Lapointe.
“Dado os efeitos negativos que o Grande Cinturão de Sargaço do Atlântico está a ter nas comunidades costeiras da África, Caraíbas, Golfo do México e Sul da Florida, são urgentemente necessárias mais investigações para informar melhor a tomada de decisão da sociedade em relação à mitigação e adaptação das várias causas terrestres, oceânicas e atmosféricas das proliferações de sargaço”, acrescentou.
O artigo científico foi publicado a 24 de maio na Nature Communications.