O futuro de Portugal a curto prazo preocupa as mulheres

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Tiago Petinga / LUSA

Manifestação “Mulheres de Abril somos com igualdade temos futuro!”

Manifestação nacional de mulheres decorreu neste sábado, em Lisboa. Resultado das legislativas origina receio de recuos.

Mais de 1.000 pessoas concentraram-se neste sábado na Praça do Rossio, em Lisboa, numa manifestação nacional de mulheres organizada pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM) pela igualdade de direitos e para defender as conquistas de Abril de 1974.

“Somos muitas, muitas mil, mulheres unidas a defender Abril!”, gritaram as mulheres presentes na manifestação.

De várias zonas do país, as pessoas que participaram nesta iniciativa do MDM, sobretudo mulheres de todas as idades, desfilaram da Praça do Rossio em direção ao Largo do Carmo.

Erguendo cravos vermelhos, símbolo da Revolução do 25 de Abril de 1974, as mulheres juntaram-se: “Pela igualdade a que temos direito, não voltaremos atrás!”, foi uma das frases de ordem da manifestação.

“As mulheres estão a passar por uma situação de grande dificuldade, diria até de alguma desesperança“, afirmou Sandra Benfica, do secretariado nacional do MDM, referindo que continuam a faltar respostas para “problemas tão antigos” como o acesso ao trabalho com direitos, a precariedade, a desregulação dos horários de trabalho, o aumento do custo de vida e o aumento das diferentes expressões de violência contra as mulheres.

Em declarações à agência Lusa, Sandra Benfica disse que é preciso “continuar esse caminho de aprofundamento e de construção de Abril”, afirmando que “Abril não é passado, Abril é futuro”.

“Efetivamente nós temos igualdade plasmada nas leis, mas essa igualdade cada vez está mais afastada das nossas vidas“, sublinhou a representante do MDM.

Este é o oitavo ano consecutivo que se realiza esta manifestação nacional de mulheres, que é culminar das comemorações do MDM do Dia Internacional da Mulher, que se celebra a 8 de março.

Sobre a presença de mais de 1.000 pessoas na manifestação, a responsável afirmou que “esta adesão corresponde à identificação do problema, a uma vontade, a uma determinação, a uma força que cresce nesta ideia: Somos mulheres, temos direitos, estamos aqui para os defender e recusamo-nos a voltar atrás”.

Alzinda Pisco, de 73 anos, decidiu vir de Santarém até Lisboa para lutar contra as “injustiças”, queixando-se da reforma de 500 euros, lamentando o que considera “uma situação de retrocesso” na concretização dos direitos das mulheres e lembrando que o 25 de Abril foi “uma janela de esperança”.

“Não podemos perder a esperança, porque aquilo que se conseguiu nestes 50 anos em democracia já foi bastante, embora ainda estejamos longe de conseguir aquilo a que todos temos direito em termos de igualdade de género”, indicou, referindo que a sua presença na manifestação é sobretudo a pensar “nas gerações mais novas, nas mulheres que hoje estão sujeitas a horários desregulados”.

A estudar em Lisboa, Clara Patrício, de 21 anos, saiu à rua por considerar que é importante fazer-se ouvir após os resultados das últimas eleições legislativas e para continuar o trabalho das gerações anteriores que lutaram pelos direitos das mulheres, temendo um retrocesso: “50 deputados de extrema-direita no parlamento faz um peso muito grande e, possivelmente, vamos regredir, mas estamos cá para continuar a lutar”.

A jovem apontou como problemas a resolver a igualdade salarial e o respeito pelas diferenças entre homens e mulheres, ressalvando que em termos intelectuais devem ser tratados de igual forma.

Joana Pereira focou-se numa vertente laboral: “As mulheres pedem horário flexível para poder conciliar a vida pessoal com a vida profissional – e nem sempre corre conforme o que seria expectável e conforme o que está na lei”.

Fátima reforçou que esta manifestação “vale ainda mais a pena” depois das eleições do dia 10: “Temos receio que haja recuos. E já há recuos; e temos receios que possam recuar mais”.

Entre os homens presentes na manifestação, Tiago Jacinto, de 43 anos, veio do Algarve até Lisboa, “porque a luta pela igualdade tem de ser uma luta de todos, dos homens, das mulheres, dos mais novos, dos mais velhos”.

“Todos temos de estar nesta luta, porque é inadmissível uma sociedade com as desigualdades como temos em Portugal, em que as mulheres ganham muito menos do que os homens a fazer o mesmo tipo de trabalho”, declarou, lamentando a situação de degradação das condições de vida de todos os trabalhadores.

“Só se avança de verdade com direitos e igualdade” foi uma das frases de ordem da manifestação, em que se apontaram problemas de discriminação das mulheres, assim como a questão da interrupção voluntária da gravidez (IVG).

A manifestação contou com a presença de uma delegação da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses — Intersindical Nacional (CGTP-IN) e do secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, que realçou que há “muita força e muita determinação” das mulheres “para que não se recue no que foi conquistado” após o 25 de Abril de 1974.

ZAP // Lusa

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