Os isqueiros brancos “amaldiçoados” do clube dos 27 são das maiores lendas da história da música

Pxfuel

Reza a lenda que vários membros do clube dos 27 morreram com isqueiros brancos da BIC nos bolsos, o que lhes rendeu a fama de estarem amaldiçoados.

O clube dos 27 já originou muitas referências culturais e receios na indústria da música, referindo-se aos vários grandes nomes que morreram com 27 anos, como Kurt Cobain, Amy Winehouse ou Brian Jones. E esta famosa superstição anda de mãos dadas com outra — a maldição dos isqueiros brancos, especialmente isqueiros brancos da BIC.

Segundo a lenda, vários dos músicos que fazem parte do clube dos 27, especificamente Jimi Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain e Jim Morrison, tinham isqueiros brancos nos seus bolsos quando morreram. Isto levou a que se criasse um receio de que o objecto é um mau presságio e símbolo da morte.

Mas, na verdade, isto não passa de um mito e um mito que até é facilmente desprovado. Em 2017, o Snopes decidiu fazer um fact-check sobre a origem desta lenda e descobriu que seria impossível Joplin, Hendrix e Morrison terem um isqueiro branco da BIC consigo quando morreram porque o produto simplesmente ainda não existia. O isqueiro só foi lançado em 1973 e Morrison morreu em 1971 e tanto Joplin com Hendrix morreram ainda mais cedo, em 1970.

É ainda improvável que os músicos tivessem consigo isqueiros brancos de outra marca que não a BIC. Uma das marcas de isqueiros descartáveis mais famosas na altura era a The Cricket, que foi lançada na década de 60 em França, mas só ganhou popularidade nos Estados Unidos em 1972.

Nenhum dos obituários ou biografias credíveis sobre estes três artistas também faz referência à presença de isqueiros brancos nos locais onde foram encontrados sem vida, pelo que este rumor parece ter aparecido do nada.

Ou será que foi mesmo do nada? O único membro deste quarteto amaldiçoado que resta é Kurt Cobain e pode ter sido a sua morte a dar aso a este boato. O vocalista dos Nirvana é o único que podia realisticamente ter o famoso isqueiro consigo quando se suicidou em 1994, já muito depois dos BIC explodirem em popularidade nos EUA.

As fotografias publicadas pela polícia de Seattle em 2014 mostram que Cobain tinha dois isqueiros nas suas imediações quando morreu. No entanto, nenhum dos isqueiros era branco — um era cor de rosa e outro tinha várias cores — e nenhum estava no seu bolso.

A razão da má fama dos isqueiros brancos

O mau presságio dos isqueiros brancos não será totalmente aleatório. Uma razão bem mais provável será antes o facto de mostrarem quem fumava erva, o que podia deixar os seus consumidores em maus lençóis com a polícia.

Quando os isqueiros descartáveis foram lançados pela primeira vez, estavam disponíveis só em duas cores — branco e preto. Quando os “pedrados” usavam os isqueiros para empurrar a erva nos cachimbos, a cinza ficava agarrada ao fundo. Se nos isqueiros pretos não havia problema, os isqueiros brancos ficavam manchados e denunciavam os fumadores.

Terá sido então por esta razão que os isqueiros brancos se tornaram um símbolo de má sorte entre os consumidores de drogas — onde se incluem muitos dos membros do clube dos 27.

Na canção “R.I.P 2 My Youth”, que está recheada de referências à morte, a banda The Neighbourhood também alude à maldição dos isqueiros — “I’m using white lighters to see what’s in front of me” ou “estou a usar isqueiros brancos para ver o que está à minha frente”.

Agora que sabemos a verdade sobre a origem da lenda, esta frase já parece muito menos aterradora.

Adriana Peixoto, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.