Entre 1877 e 1950 foram linchados no sul dos EUA cerca de quatro mil negros, mais de uma execução por semana durante 73 anos, revelou um estudo divulgado esta terça-feira.
O inquérito foi promovido pelo grupo Iniciativa para a Justiça Igual, EJI, uma organização de defesa dos direitos do homem.
“Na Alemanha, são obrigados a gerir as consequências do Holocausto“, disse à AFP Bryan Stevenson, fundador da organização, que está instalada no Estado no Alabama.
“Nós fazemos exatamente o contrário na América. Não estamos empenhados no caminho da reconciliação e verdade, não tentámos realmente enfrentar as consequências desta herança”, disse este professor de Direito.
A sua associação investigou durante vários anos o que designa por “terrorismo racial” em 12 Estados do Sul dos EUA: Alabama, Arkansas, Florida, Geórgia, Kentucky, Luisiana, Mississípi, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Tennessee, Texas e Virgínia.
Durante a sua investigação, recenseou 3.959 linchamentos nesta região do país, o que representa mais 700 vítimas do que as identificadas em estudos anteriores.
Os membros da EJI deslocaram-se a vários locais onde ocorreram estes assassínios.
No seu documento, a organização conta como milhares de norte-americanos brancos, incluindo eleitos locais, se juntavam para assistir ao linchamento público de vítimas, que eram torturadas, mutiladas e desmembradas.
Ainda mais perturbador era a produção de postais ilustrados, que mostravam fotografias dos corpos, ou o aproveitamento da oportunidade para vendedores ambulantes disponibilizarem alimentos, limonada e ‘whisky’.
Em algumas ocasiões, partes dos corpos das vítimas eram distribuídas como uma espécie de lembrança.
Centenas de pessoas foram assassinadas sem serem formalmente acusadas de crimes graves, por vezes mesmo, por futilidades como recusar descer de um passeio ou tocar acidentalmente numa mulher branca.
Durante este período nunca um branco foi acusado por ter linchado um negro, salientou-se no documento.
Perante estas ameaças, mais de seis milhões de negros fugiram dos Estados do sul em 1910 e 1970, refugiando-se em ‘guetos’ urbanos nas cidades do norte e oeste dos EUA.
“Os linchamentos tiveram um impacto muito importante sobre as relações entre as raças na América e condicionaram as condições de vida geográficas, políticas, sociais e económicas dos negros americanos de uma maneira que hoje permanece muito clara”, indicou-se no documento.
De uma maneira completamente desproporcionada, os negros nos EUA sempre correram mais risco de detenção, de acusação da autoria de um crime ou condenação à morte.
Hoje, cerca de 42% dos condenados à morte são negros, tal como 34% dos executados desde 1976, apesar de esta minoria constituir apenas 13% da população do país.
/Lusa