O primeiro estudo sobre literacia em saúde realizado em Portugal revelou que “a maioria dos portugueses” inquiridos tem um “nível de literacia em saúde problemático ou inadequado”.
O estudo, que contou com um inquérito feito a 1.004 pessoas, foi desenvolvido no âmbito do projeto “Saúde que Conta” da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), com o apoio de um laboratório, e que teve como base o Questionário Europeu de Literacia em Saúde.
De acordo com os resultados, e no que respeita à prevenção da doença, cerca de 45% da população inquirida revelou ter um nível suficiente ou excelente de literacia em saúde, ou seja, a capacidade de tomar decisões fundamentadas no seu dia-a-dia, seja em casa, no local de trabalho ou na utilização do sistema de saúde, assim como a sua capacidade para procurar e compreender informações médicas.
Em matéria de promoção da saúde, 60,2% dos inquiridos apresenta um nível de literacia problemático ou inadequado, comparativamente com os outros países em análise: Espanha, Irlanda, Holanda, Alemanha, Áustria, Grécia, Polónia e Bulgária.
“A Bulgária apresenta, nesta dimensão, um nível de promoção da saúde problemático ou inadequado de 70,3%, sendo a Irlanda e a Holanda os países com os melhores resultados a este nível, 40,6% e 36,3%, respetivamente”, concluiu o estudo.
A investigação apurou que, em Portugal, “à medida que a idade aumenta, o nível de literacia em saúde diminui“.
“Observa-se tendencialmente o inverso no que diz respeito ao nível de escolaridade: quanto maior o nível de escolaridade, os níveis de literacia em saúde tendem a ser superiores”.
Os resultados do questionário, aplicado em Portugal continental e ilhas, revelam, contudo, que “não são somente os grupos vulneráveis que apresentam níveis inadequados de literacia em saúde, mas sim a população em geral”.
Ana Escoval, da ENSP e coordenadora do estudo, considera que os resultados são “uma ferramenta que permite direcionar e alinhar melhor as estratégias e intervenções de literacia em saúde a serem desenvolvidas, não só ao nível nacional, mas também ao nível europeu”.
Nos últimos anos, sublinhou, “são cada vez mais os estudos que revelam que um nível inadequado de literacia em saúde tem implicações significativas nos resultados em saúde, na utilização dos serviços de saúde e, consequentemente, nos gastos em saúde”.
De acordo com a investigação, algumas das consequências dos baixos níveis de literacia em saúde passam por “uma maior taxa de morbilidade em doenças como diabetes, hipertensão, obesidade e infeção por VIH”.
/Lusa