Mais de 65 mil animais são utilizados para fins científicos em Portugal

O número de projetos autorizados pela DGAV diminuiu em 2020. São usados principalmente murganhos (ratinhos) e ratos, mas também peixes, coelhos e porcos.

Foram utilizados 65.966 animais em 2020, em Portugal, para experiências científicas, sendo o número mais baixo comparativamente a 2019 e 2018.

Durante os últimos anos, os cientistas têm procurado cada vez mais alternativas e têm tentado melhorar os procedimentos para minimizar o sofrimento dos animais.

Em 2020 foram usados sobretudo murganhos (ratinhos), ratos e peixes-zebra, para ajudarem em 62.897 investigações científicas, de acordo com o Jornal de Notícias.

Segundo os dados fornecidos pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), foram usados 40.755 animais para investigação básica, sobretudo nas áreas do sistema imune, sistema nervoso, oncologia, etologia/comportamento, sistema cardiovascular, sanguíneo e linfático.

Já na investigação aplicada, foram utilizados 22.142 animais, principalmente nas áreas de infeções, cancro, perturbações do sistema nervoso e psiquiátricas.

Os restantes tiveram como finalidade a manutenção de linhagens geneticamente alteradas (1.345), proteção do ambiente (1.320), uso regulamentar e proteção de rotina (232) e ensino ou formação (172).

Estes valores apresentam uma diminuição em comparação aos dois anos anteriores, sendo que dos 79.447 animais usados em 2019, 72.524 visaram investigação. Já em 2018, dos 81.107 usados, 63.423 foram para investigação.

Ainda em 2018, o número para manutenção de linhagens foi bastante superior, com 16.216 animais, contra 2.601 em 2019 e 1.345 no ano de 2020.

Segundo Magda Castelhano Carlos, presidente da Sociedade Portuguesa de Ciência de Animais de Laboratório, o número de animais usados varia conforme as investigações em curso a cada ano.

No entanto, existe uma tendência geral de “investimento em alternativas“, que passam por modelos matemáticos, organoides e culturas tecidulares.

De acordo com Castelhano Carlos, verificou-se um “aumento da investigação científica na área da vacinação e doença com modelos animais” mas, por outro lado, “restrições [de acesso] aos laboratórios” durante a pandemia.

Ainda segundo a especialista, houve um “grande esforço para manter os animais, mas menos trabalho desenvolvido”.

Nuno Franco, investigador no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), admite que é possível continuar a reduzir o uso de animais, mas não é possível que sejam totalmente dispensados.

Por um lado, não é possível “modelar o desconhecido” e não haverá muita margem na investigação básica e aplicada, a nível de testes, como os toxicológicos ou os farmacocinéticos, mas há espaço para algumas alternativas.

Já se conseguiu “uma grande redução” na indústria farmacêutica, optando, “em fases mais precoces do processo de desenvolvimento, por modelos matemáticos, antes de testes em animais”.

Nuno Franco, que fundou a rede informal de profissionais dos Órgãos Responsáveis pelo Bem-Estar dos Animais (ORBEA), sublinha que “já muito foi feito a nível de conforto, do dano e do sofrimento a que são sujeitos” os animais.

O foco tem de ser agora “a nível da qualidade metodológica dos estudos, para não haver desperdício”. O uso de animais para investigação é um assunto fortemente criticado, mas Magda Castelhano Carlos acredita que a divulgação das práticas ajuda a população a ter uma “opinião mais informada“.

ZAP //

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