Mais de 1,1 milhões de utentes estão sem médico de família

Continua a haver 1,1 milhões de utentes inscritos sem médico de família atribuído. O problema é transversal a todas as regiões do país, mas mais de dois terços do total de pessoas sem médico estão em Lisboa e Vale do Tejo.

Os dados do BI dos Cuidados de Saúde Primários e do Portal do SNS, citados pelo jornal Público, indicam que, em 10,4 milhões de pessoas inscritas nos centros de saúde, mais de 1,1 milhões terminaram o ano de 2021 sem médico de família atribuído.

Na região de Lisboa e Vale do Tejo, são mais de 783 mil pessoas nessa situação, o que representa 69% do total de pessoas sem médico de família em Portugal.

O problema é transversal a todas as regiões, mas com pesos diferentes. Em Lisboa e Vale do Tejo, 20,3% das pessoas não têm médico de família, enquanto na região Norte (ambas têm mais de três milhões de inscritos) essa percentagem é de 2,7%.

No Algarve, o número de pessoas sem médico atribuído representa 16% do total de inscritos, no Alentejo esse peso é de 9,5% e no Centro de 6,5%.

Ao diário, Diogo Urjais, vice-presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, diz que a situação pode ser ainda pior do que a espelhada nos números.

“Existe uma franja de pessoas, migrantes com números provisórios, que não conseguimos contabilizar, porque não estão inscritos e querem ter acesso a uma equipa de saúde”, explica o responsável, acrescentando que os utentes com médico atribuído também registaram dificuldades ao acesso aos cuidados de saúde devido à pandemia.

“Não é só dar um médico – é dar uma equipa de saúde familiar. O discurso político tem de mudar aí”, considera.

Nuno Jacinto, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, não perspetiva um cenário melhor para os próximos anos, se tudo continuar como está. “Se nada for feito, vamos continuar a ter este cenário nos próximos anos.”

A atribuição de um médico de família a todos os inscritos foi uma promessa do atual Governo quando assumiu funções. No debate com Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, António Costa foi questionado sobre a falta de médicos de família e assumiu que continua a ser um objetivo do PS, sem, no entanto, avançar datas.

Desafiado por Clara de Sousa com uma previsão, Costa respondeu: “Gato escaldado [de água fria] tem medo”. “Não vou assumir outra vez uma data de calendário, foi de facto um objetivo que tínhamos fixado e julgávamos possível, não foi possível, vamos fazer de tudo para o conseguir.”