Navalny desaparecido há uma semana. Não está registado em lado nenhum

1

Russo terá sido transferido para outra prisão, mas não está registado em nenhuma das colónias penais. Está desaparecido há uma semana, após ter apelado ao voto contra o chefe do Kremlin. Onde está Navalny?

O líder da oposição russa, Alexei Navalny, a cumprir pena na prisão número 6 da região de Vladimir desde junho de 2022, está desaparecido há uma semana.

Há suspeitas de que foi transferido para outra prisão, cuja localização ainda é desconhecida, segundo colaboradores.

“O seu advogado acaba de ser informado de que o prisioneiro Navalny já não se encontra na prisão”, escreveu esta segunda-feira Kira Yarmish, uma das aliadas do líder da oposição, na rede social X (antigo Twitter).

De acordo com Yarmish, os funcionários da prisão não concordaram em revelar o novo paradeiro de Navalny, que está a cumprir uma pena de prisão de quase 30 anos. Segundo Yarmish, a equipa de Navalny não tinha tido notícias dele durante seis dias.

À espera de notícias do lado de fora de Melekhovo, a 235km a leste de Moscovo, e de outra colónia próxima, os advogados de Navalny foram informados de que ele não estava registado em nenhum dos locais, avança a BBC.

Navalny esteve ausente de várias audiências recentes em tribunal, às quais no passado assistiu por videoconferência — ausência que as autoridades prisionais atribuíram a problemas técnicos na colónia.

Novo caso criminal?

Segundo informações preliminares obtidas pelo canal de Telegram Baza, Navalny foi levado para Moscovo para investigações relacionadas a um novo caso criminal.

Serão investigações relacionadas ao caso de vandalismo — a 1 de dezembro, o ativista informou que foi iniciado um processo criminal contra si sob o artigo 214 do Código Penal da Federação Russa, informação que não foi oficialmente confirmada.

A segunda parte do mesmo artigo prevê prisão de até três anos por “vandalismo em grupo, bem como por motivos de ódio ou hostilidade políticos, ideológicos, raciais, nacionais ou religiosos”.

Outras fontes confirmam a transferência, mas sublinham: Moscovo pode não ser o destino final de Navalny.

Provocações com eleições à porta

Os colaboradores de Navalny — que já esperavam que este fosse transferido para uma prisão de regime mais rigoroso, após a extensão da sua pena de prisão — suspeitam que o desaparecimento está ligado a recentes declarações sobre as eleições.

A 7 de dezembro, Navalny apelou, a partir da prisão, a um voto contra o Presidente russo, Vladimir Putin, nas eleições de março de 2024.

“Nesse dia, apelamos a todos para irem às urnas e votarem contra Vladimir Putin. Isto pode ser feito colocando uma cruz na caixa de qualquer outro candidato”, escreveu no seu canal ‘Telegram’.

Navalny anunciou também o lançamento de um ‘site’ (neputin.org), bloqueado um dia após o seu lançamento, que apelava aos russos para que apoiassem qualquer candidato presidencial, exceto o atual chefe do Kremlin.

Putin, que está autorizado pela reforma constitucional de 2020 a cumprir mais dois mandatos presidenciais de seis anos cada, anunciou a sua candidatura à reeleição no dia 8 de dezembro durante uma cerimónia de condecoração dos militares russos que combatem na Ucrânia.

Kremlin acusa EUA. Casa Branca “preocupada”

Um porta-voz afirmou esta segunda-feira que a Casa Branca está “extremamente preocupada” com as últimas informações relativas a Navalny.

“Ele deve ser libertado imediatamente. Nunca deveria ter sido preso“, afirmou John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, indicando que as autoridades norte-americanas estão à procura de mais informações.

O Kremlin acusou esta terça-feira os Estados Unidos de “interferência inaceitável” no caso Navalny, após Washington ter demonstrado preocupação com o facto de os familiares não terem notícias do opositor russo preso há sete dias.

“Este é um prisioneiro que foi considerado culpado (…) e que está a cumprir a pena que recebeu. Consideramos que qualquer interferência, especialmente dos Estados Unidos, é inaceitável e impossível“, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Mártir, extremista, sobrevivente

Navalny, de 47 anos, que cumpre ainda pena de nove anos por alegada fraude, foi condenado em agosto passado a mais 19 anos de prisão por criar uma organização considerada extremista, o Fundo Anticorrupção, que denunciou o enriquecimento ilícito de altos funcionários, incluindo Putin, a quem acusou de possuir um sumptuoso palácio nas margens do Mar Negro.

Durante mais de uma década procurou expor a corrupção no coração do poder russo. A certo ponto, parecia ser o único líder da oposição russa capaz de mobilizar cidadãos em grande escala para protestos anti-governamentais.

Em 2020, foi envenenado na Sibéria por aquilo que laboratórios ocidentais mais tarde confirmaram ser um agente nervoso. Um relatório posterior da agência de investigação Bellingcat e do site de notícias russo The Insider implicou vários agentes do serviço de segurança interno da Rússia, o FSB, no ataque.

Depois de recuperar do ataque, regressou à Rússia em 2021 apesar de saber que poderia ser preso. Foi imediatamente detido à chegada a um aeroporto em Moscovo.

Foi-lhe dito que teria de continuar a sua encarceração numa “colónia de regime especial”, um tipo de prisão normalmente reservada a criminosos perigosos, reincidentes e sujeitos a prisão perpétua.

Todas as acusações contra o ativista são amplamente vistas como politicamente motivadas.

Tudo o que se passa é “0% coincidência e 100% controlo político diretamente do Kremlin”, acredita o seu colaborador Leonid Volkov.

“Não é segredo para Putin quem é o seu principal opositor nestas eleições”, disse Volkov. “E ele quer garantir que a voz de Navalny não é ouvida. Cada um de nós deve tornar-se a voz de Navalny.”

ZAP // Lusa

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.