/

Los Angeles pagou 62 milhões por testes de covid-19 que está a usar incorretamente

Guillaume Horcajuelo / EPA

Los Angeles gastou pelo menos 62 milhões de dólares em testes covid que está a usar incorretamente. Os kits da Curative têm um grande risco de apresentar falsos negativos.

Nos primeiros meses da pandemia, a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, gastou mais de 62 milhões de dólares em testes de diagnóstico da covid-19. O problema é que estes kits eram amplamente usados contra as indicações da Food and Drug Administration (FDA), a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

Em menos de um ano, a startup Curative passou de um estado de anonimato para um dos maiores fornecedores de testes de coronavírus nos Estados Unidos. A empresa diz ser responsável por cerca de 10% dos testes realizados em todo o país.

No entanto, a FDA avisou que os testes da Curative correm “o risco de resultados falsos, particularmente falsos negativos“. A agência advertiu que estes testes só devem ser administrados a pessoas com sintomas de covid-19 e sob a supervisão de profissionais de saúde.

“Um falso negativo é realmente muito perigoso do ponto de vista de saúde pública”, disse ao Motherboard Jessica Malaty Rivera, do COVID Tracking Project, uma organização dedicada a rastrear e compreender a covid-19. “Quando temos pessoas infetadas que andam por aí sem saber, com ou sem sintomas, esse é o pior cenário para compreender a doença”.

Os testes da Curative foram a primeira arma da cidade de Los Angeles para qualquer pessoa suspeita de ter estado exposta ao coronavírus. Num artigo publicado no dia 28 de abril do ano passado, o Los Angeles Times escreveu um artigo com o seguinte título: “L.A. está a usar um teste simplificado de coronavírus. Mas tem potenciais riscos e benefícios”.

“Se a abordagem da Curative funcionar, ela pode inaugurar uma forma muito mais simplificada de testes em todo o país, num momento em que contar o número de infetados é essencial para reabrir a economia. Mas se a abordagem acabar por ser menos precisa do que outras, isto pode significar que algumas das medições que rastreiam a extensão do surto são mais confusas do que as conhecidas anteriormente”, lê-se no artigo.

Até junho do ano passado, as faturas mostram que Los Angeles gastou 62 milhões de dólares em testes da Curative. Apesar dos pedidos do portal Motherboard, o governo municipal de Los Angeles não divulgou os recibos dos meses em diante.

Entretanto, vários especialistas alertavam para o facto de os testes estarem a ser feitos sem se seguir as indicações homologadas pelo fabricante.

Existem vários motivos pelos quais um teste pode dar um falso negativo, de acordo com Malaty Rivera, mas provavelmente resume-se a uma má amostra. Isto acontece fundamentalmente quando a recolha não é supervisionada de perto por um profissional de saúde. Uma zaragatoa oral, o método amplamente usado pela Curative, tem menos probabilidade de obter uma boa amostra do que uma zaragatoa nasal, realça ainda a VICE.

“É o médico que faz o pedido – não é um funcionário da Curative, mas um funcionário do órgão de saúde pública ou um médico de telemedicina – quem determina se deve ou não prescrever um teste”, disse um porta-voz da Curative.

O porta-voz passou ainda a responsabilidade para o “médico solicitante” por informar às pessoas que um teste negativo não significa necessariamente que a pessoa não tem covid, embora os testes sejam agendados através do site da Curative.

Daniel Costa, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.