Cem anos depois, Los Angeles devolve terreno de 20 milhões a família afro-americana

A comissão de um condado de Los Angeles votou para devolver as terras a uma família, proprietária de um resort para a comunidade afro-americana.

A família afro-americana era dona de um resort à beira-mar, até as terras terem sido apreendidas por autoridades da Califórnia, em 1920.

A comissão de supervisores votou unanimemente uma moção para completar a transferência da área outrora conhecida como Bruce’s Beach, na cidade de Manhattan Beach, que mais tarde foi convertida numa sede de treino salva-vidas e no parque de estacionamento do condado.

Willa e Charles Bruce compraram o terreno em 1912 e construíram a primeira estância balnear da costa para pessoas negras, numa altura em que várias praias foram segregadas. A propriedade vai agora ser entregue aos herdeiros.

A família sofreu assédio racista dos seus vizinhos brancos e a terra foi-lhes retirada em 1924 sob o pretexto de domínio eminente para construir um parque. A propriedade foi então transferida para o estado da Califórnia em 1948.

O Estado, em 1995, transferiu a propriedade para o condado e impediu que fossem realizadas novas compras do terreno.

Os responsáveis concluíram em maio o seu processo de confirmação de Marcus e Derrick Bruce, bisneto de Willa e Charles Bruce, para serem os herdeiros legais da propriedade, agora estimada em 20 milhões de dólares.

“Os meus tetravós, Willa e Charles Bruce sacrificaram-se para abrir um negócio que deu aos negros um lugar de reunião e socialização, e Manhattan Beach tirou-lhes por causa da sua cor de pele”, sublinhou Anthony Bruce, um porta-voz da família, em declarações aos jornalistas.

“Destruiu-os financeiramente. Destruiu-lhes a oportunidade do sonho americano”, lamentou ainda Anthony Bruce.

Os proprietários originais persistiram e mantiveram o resort, apesar de múltiplos atos de vandalismo e de um ataque do grupo supremacista branco Ku Klux Klan.

Janice Hahn, responsável pelo condado de Los Angeles, iniciou o processo de devolução da propriedade aos descendentes em abril de 2021, depois aprovada pelo legislador estadual de um projeto de lei que retirava a restrição à compra do terreno.

“Não podemos mudar o passado e nunca conseguiremos compensar a injustiça que foi feita a Willa e Charles Bruce há um século, mas isto é um começo”, declarou Hahn, citada pela Associated Press.

“Esta pode ser a primeira devolução de terras deste género, mas não pode ser a última”, acrescentou também a responsável.

Holly Mitchell, presidente do condado, afirmou durante a votação que a família Bruce foi “roubada da sua propriedade e riqueza geracional devido a leis e práticas injustas enraizadas no racismo sistémico”.

O co-autor da moção acrescentou ainda que “não estamos a dar uma propriedade a ninguém, estamos a devolver a propriedade”.