Encontrada numa caixa, Lola, de 12 anos, foi violada e torturada. A sua morte virou caso político

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Paris

A morte violenta de Lola, uma menina de 12 anos, está a chocar os franceses. Mas o caso também está a ser aproveitado pela extrema-direita para discutir a questão da imigração porque a suspeita do crime é uma cidadã argelina em situação irregular.

Lola tinha 12 anos e foi encontrada morta numa caixa de plástico, em Paris, no pátio interno do prédio onde morava com os pais no Bairro 19. O seu assassinato terá ocorrido na tarde da passada sexta-feira, depois de ter regressado a casa das aulas.

Os pais deram pela falta da filha a meio da tarde desse dia e comunicaram o seu desaparecimento às autoridades.

Na altura, o pai, que é porteiro do imóvel onde a família vivia, espreitou as imagens de video-vigilância e reparou que a filha chegou a entrar no edifício, por volta das 15:15 horas.

O pai viu a filha na companhia de uma jovem que veio a ser detida como suspeita, depois de ter sido vista a sair do imóvel com duas malas que pareciam pesadas, por volta das 17 horas.

Foi já depois de os pais terem publicado alertas sobre o desaparecimento da filha nas redes sociais, com fotos da menina loura e sorridente, que foi encontrada a caixa com o corpo da criança, escondido entre tecidos. Era um baú de plástico, com rodas, e estava no pátio interno do prédio onde reside a família de Lola.

A autópsia ao corpo da criança revelou que Lola morreu por asfixia, como relata o jornal Le Figaro. Além disso, apresentava múltiplas lesões, sobretudo na face e nas costas, em sinal de que terá sido torturada antes de morrer. Também foi violada, de acordo com o diário francês.

Detida suspeita argelina em situação irregular

As autoridades já detiveram uma mulher, uma jovem de origem argelina, de 24 anos, como a principal suspeita do homicídio. Ela está em prisão preventiva e em isolamento sob fortes medidas de segurança, com receios de que possa ser atacada por outras reclusas, ou de que tente o suicídio.

O Le Parisien avança que a jovem “vai ser avaliada por um psiquiatra” e o Le Figaro nota que sofrerá de “perturbações mentais”.

Aos investigadores terá dito que também foi “violada” e que viu os “pais morrerem” à sua frente, como destaca o Le Figaro, realçando que é suspeita de “assassinato de um menor de 15 anos acompanhado de violação, tortura e actos de barbárie”.

A jovem argelina terá levado a menina para o apartamento da irmã que mora no mesmo prédio onde residem os pais da vítima, tê-la-á forçado a tomar banho antes das agressões sexuais e de a ter torturado, segundo revela a imprensa francesa.

A criança tinha “um zero e um 1 escritos a vermelho sob cada pé”, segundo a Procuradora da República de Paris, Laure Beccuau, citada pelo Le Figaro.

Sem antecedentes criminais, a suspeita terá sido vítima queixosa num incidente de violência doméstica em 2018.

A jovem chegou de forma legal a França em 2016, com um visto de residência para estudante. Mas tinha um aviso para deixar o território francês depois de ter sido detida, em Agosto de 2022, num controle regular da polícia. Nessa altura, não tinha o título de residência e estava em situação irregular.

Foi também detido um homem de 43 anos que está indiciado por “ocultação de cadáver”, de acordo com o Le Figaro.

Rumores de tráfico de órgãos ou ritual

A morte de Lola está a abalar o Bairro 19 de Paris que é considerado um dos mais ecléticos da capital francesa, acolhendo muitos imigrantes e de diversas proveniências.

Nas redes sociais, o caso tem sido amplamente comentado, com alguns rumores pelo meio que especulam sobre as motivações do crime. Fala-se de um ritual ou até de tráfico de órgãos, hipóteses que são descartadas pelo advogado da suspeita, Alexandre Silva.

Entretanto, sucedem-se as homenagens à criança, com várias pessoas a deixarem flores junto ao prédio onde a família vive. A escola que frequentava está a fornecer apoio psicológico aos colegas e aos funcionários.

O prefeito do Bairro 19, François Dagnaud, também visitou a escola, lamentando que esta “é uma provação terrível” para toda a “comunidade escolar” e para “um bairro inteiro”.

O ministro da Educação de França, Pap Ndiaye, foi igualmente à escola para participar num minuto de silêncio em nome de Lola.

Morte de Lola como “panfleto eleitoral”

O ministro do Interior de França, Gérald Darmanin, apresentou as suas condolências aos pais da criança e aproveitou a presença na Rádio RTL para deixar críticas aos partidos, acusando-os de “indecência” e de estarem a “instrumentalizar” a morte de Lola e a transformá-la num “panfleto eleitoral”.

“É preciso que os responsáveis políticos reflitam sobre as consequências das suas palavras, até mesmo na família que vê as fotos da sua filha a circular por todo o lado”, destacou o ministro do Interior francês.

As palavras de Darmanin surgem depois de alguns políticos, nomeadamente da extrema-direita, terem vindo a público lamentar a morte da criança associando-a à imigração ilegal.

Extrema-direita fala em “francocídio”

Marine Le Pen, da Frente Nacional, já veio dizer que o crime deve reabrir “o debate” em torno da “imigração clandestina em França”.

Mais incisivo foi Eric Zemmour, ex-candidato presidencial de extrema-direita que é conhecido como o “Trump francês”, que fala mesmo de um “francocídio”, ou seja, da “morte de um francês porque é francês”, conforme palavras do próprio.

“De nacionalidade algeriana e em situação irregular, é oficial: a assassina de Lola nunca deveria ter cruzado o seu caminho“, escreveu Zemmour no seu perfil do Twitter.

Não é a primeira vez que Zemmour faz declarações deste tipo. Aliás, o ex-jornalista já foi condenado por incitação ao ódio por ter falado de migrantes menores desacompanhados como “ladrões”, “assassinos” e “violadores” num programa de televisão.

A deputada Sandrine Rousseau, economista e membro do grupo dos Verdes, criticou as palavras de Zemmour, considerando que “o francocídio não existe”.

“Os assassinos e assassinas não podem ser reduzidos a uma cor de pele, uma religião ou uma nacionalidade, excepto para cair nas horas mais escuras da humanidade”, escreveu Rousseau no Twitter.

Susana Valente, ZAP //

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13 Comments

  1. A frouxidão dos lideres Europeus, a ajuda aos refugiados mulheres e crianças dos países africanos e desfavorecidos criaram esta situação …

    esta onda de refugiados só trouxe demência a um continente já cansado… deixem-nos lá ficar a eles e mais as suas culturas de paz….

    • Isso também explica o Canibal de Rotemburgo na Alemanha ou El Mataviejas em Espanha ou o Dennis Nilsen em Inglaterra, entre muitos outros?!!
      Costuma pensar antes de escrever ou despeja a primeira coisa que lhe passa pela cabeça?!

      • Carissimo, compare a quantide de casos que aconteceram com gentes da Europa com a quantidade de casos que tem acontecido ultimamente com as chamadas religiões da paz…

        É este enrequecimento cultural que pretende para os seus filhos, netos etc?

      • Há mais casos com “gentes da Europa” e sobretudo bem mais graves, nomeadamente assassinos em série. Enumere lá o número de casos na Europa de assassinos em série que sejam refugiados!

      • Há só assassinos em série é que interessam é isso?

        Não lhe faz confusão a si dar abrigo a seres humanos em necessidades pelos mais diversos motivos, que depois se tornam autenticas bestas nas sociedades que os receberam e deram a hipótese de ter uma vida civilizada?

      • Apenas referi os assassinos em série porque esses serão mesmo o limite da violência. Não é um caso isolado, o estar no local errado à hora errada, não é um momento único de loucura. É toda uma continuidade de crimes hediondos.
        O amigo pinta os refugiados como monstros, mas olhe que os maiores monstros da Europa eram europeus e não refugiados. O que o amigo faz é a generalização, típica de gente com alguma incapacidade de pensar por si. Generaliza-se tudo e assim é mais fácil lidar com muita informação.
        Já viu a quantidade de cidadãos provenientes de fora da Europa que sucederam em diferentes países europeus? Porque não fala desses?

  2. Sem ler toda a noticia que parece um bocado escabrosa demais e depois de uma longa carreira de investigação criminal diria que devem faltar algumas peças no corpo. A alma da menina já partiu dele. Podemos portanto chamar-lhe assim.

    Mas isso nunca será revelado. A Europa é um paraíso na terra e o resto é apenas uma selva. Pelo menos é o que o nosso Josep Borrel diz à boca cheia. Pensar que pode existir um mercado negro de órgãos nem pode ser sugerido. E pensar que somos co-autores de tal situação é anátema.

    Diria até que este meu comentário não será reproduzido. Estarei enganado?

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