Carnívoro é o mais ameaçado do continente africano. Cães domésticos e agricultura estão a matar o emblemático lobo.
O lobo-etíope (Canis simensis) caminha neste mundo há mais de um milhão de anos.
Endémico das regiões de elevada altitude da Etiópia, acima dos 3.000 metros, estes esguios lobos, parecidos com raposas, sobreviveram a alterações climáticas e a desafios ecológicos… até agora, altura em que se tornaram o carnívoro mais ameaçado de África — em grande parte devido às atividades humanas.
Com o seu pelo avermelhado e manchas brancas, este predador altamente especializado depende de uma dieta de ratos-toupeira gigantes encontrados nos prados alpinos da Etiópia.
Caçadores sociais, mas solitários, vivem em alcateias espalhadas por apenas seis populações isoladas, de acordo com o Programa de Conservação dedicado à à sua proteção.
Apesar da sua linhagem antiga — provas fósseis sugerem, segundo o IFL Science, que a sua presença em África remonta a pelo menos 1,4 milhões de anos — o seu número é, atualmente, extremamente baixo.
Há menos de 500. Cães domésticos propagam doenças
Estimativas recentes revelam que restam apenas 454 lobos adultos em 99 alcateias, numa área fragmentada de 2.700 quilómetros quadrados. Listada como “ameaçada” na Lista Vermelha da IUCN, a população da espécie continua a diminuir.
Ao contrário dos desafios de sobrevivência do passado, as ameaças atuais resultam predominantemente da interferência humana, especialmente da propagação de doenças como a raiva e o vírus da esgana canina através dos cães domésticos.
Nas montanhas de Bale, na Etiópia, a maior população de lobos sofreu um declínio dramático, com surtos de doenças que reduziram o seu número até 75%.
A expansão humana agrava ainda mais a crise. As terras altas da Etiópia, onde vivem os lobos, estão a sofrer uma pressão crescente da agricultura. De acordo com o Programa de Conservação do Lobo da Etiópia (EWCP), 60% do habitat adequado para o lobo já foi convertido em terras agrícolas, deixando o território restante fragmentado e vulnerável.
Os especialistas alertam para o facto de o futuro do lobo estar agora “dependente da conservação”. As estratégias eficazes devem incluir a proteção do habitat, a gestão ativa das doenças, a promoção da coexistência com as comunidades locais e os esforços de translocação para manter a diversidade genética das populações isoladas.
Sem uma ação urgente, um dos carnívoros mais emblemáticos de África pode desaparecer para sempre, levando consigo mais de um milhão de anos de história evolutiva.