Miguel Arruda acusado de fazer saudação nazi no Parlamento

Sofia Pereira / X

Miguel Arruda com o braço levantado como se estivesse a fazer a saudação Nazi, no Parlamento

O dirigente do Livre Rui Tavares acusou esta sexta-feira o ex-deputado do Chega Miguel Arruda, agora não inscrito em qualquer bancada, de ter feito a saudação nazi no parlamento, quando sinalizou o seu sentido de voto.

Rui Tavares fez uma interpelação à mesa da Assembleia da República para denunciar que Miguel Arruda, pelo menos por duas vezes, “de forma consciente e deliberada”, votou “fazendo o gesto da saudação fascista, nazi ou romana“.

Miguel Arruda, deputado eleito pelo Chega nos Açores nas últimas eleições, desvinculou-se deste partido e passou à condição de deputado não inscrito depois de ter sido acusado pelo Ministério Público de furto qualificado de malas no aeroporto de Lisboa.

Dirigindo-se ao “vice” do parlamento Marcos Perestrello, deputado socialista que então presidia aos trabalhos do plenário, o porta-voz do Livre Rui Tavares sustentou que o facto que tinha acabado de denunciar seria “facilmente comprovável pelas imagens da Assembleia da República”.

Mas não foi preciso esperar pelas imagens da Assembleia da República. O momento rapidamente começou a circular nas redes sociais, através de uma imagem tirada a partir da bancada socialista onde se vê Miguel Arruda a levantar o braço, numa espécie de saudação nazi.

“Pertence ao Mário e vota assim. Há de ser paródia também, não é?“, escreveu no X, a secretária-geral da Juventude Socialista (JS), fazendo uma alusão a declarações recentes de Miguel Arruda, em que dizia pertencer ao neonazi Mário Machado.

Em causa está uma chamada telefónica protagonizada pela página de comédia “Jovem Conservador de Direita”, que conseguiu falar com Miguel Arruda.

Na chamada, em que admite ter um “dialeto f*dido” por ser açoriano, o deputado confessa também repetidamente: “eu pertenço ao Mário”, referindo-se, como se verificou na continuação do telefonema, ao líder do Grupo 1143 Mário Machado.

“E é um facto que em qualquer parlamento europeu ou qualquer parlamento do mundo tem uma gravidade enorme, porque é uma afronta aos valores democráticos”, declarou Rui Tavares, após denunciar o gesto.

Na resposta, Marcos Perestrello confessou não ter visto o gesto de Miguel Arruda e afirmou que, “se assim foi, é realmente condenável”.

“Há vários líderes a fazerem o mesmo… até de esquerda”

A seguir, Miguel Arruda pediu a palavra para negar ter feito a saudação nazi.

“Estava só a sinalizar o meu sentido de voto desse modo. Há vários líderes a fazerem o mesmo… até de esquerda”, alegou.

Mais tarde, o ex-deputado do Chega também argumentou que, por estar sentado na última fila no plenário, por vezes, o presidente da Assembleia da República não consegue identificar o seu sentido de voto, razão pelo qual estica o braço.

Palavras que não convenceram Rui Tavares, insistindo que os serviços da Assembleia da República deverão tomar as providências necessárias “e por escrito intimar o próprio [Miguel Arruda] a justificar essa sua ação”.

Marcos Perestrello procurou encerrar este incidente dizendo que a mesa tomou nota da posição do dirigente do Livre e que o deputado Miguel Arruda negou ter esticado o braço com a intenção de fazer a saudação nazi.

Momentos depois, em declarações aos jornalistas, já fora do plenário, Rui Tavares instou o Presidente da AR a levar o tema à próxima conferência de líderes.

Para Rui Tavares, o gesto não deixou “absolutamente nenhuma dúvida”. “Se já normalizamos saudações nazi no parlamento então não resta mais nada para normalizar“, considerou.

Entretanto, em declarações ao Observador, Miguel Arruda admitiu que “que tal gesto visto de outra perspetiva ou ângulo pode gerar esta sensação“, referindo que vai “mandar email ao Presidente da Assembleia da Republica a questionar-lhe como quer que comece a dar as indicações de voto”.

Único contra voto de pesar por Maria Teresa Horta

Esta sexta-feira de manhã, a Assembleia da República aprovou um voto de pesar pela morte da poetisa Maria Teresa Horta, recordando-a como uma figura “cuja obra e empenho cívico criaram lastro na cultura do país”.

Curiosamente, esta iniciativa só teve o voto contra de Miguel Arruda.

O voto de pesar, apresentado pelo presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, recorda que Maria Teresa Horta, que morreu na segunda-feira aos 87 anos, foi poetisa, escritora e jornalista, e enaltece o seu “percurso de vida marcado pela resistência ao fascismo e pelo ativismo em defesa da democracia e da emancipação da mulher”.

Os deputados manifestaram o seu “profundo pesar” pela morte da poetisa, “figura cuja obra e cujo empenho cívico criaram lastro na cultura do país”.

“O legado que nos deixa na literatura e na poesia, no jornalismo e na causa pública continuará a marcar a nossa vida comum”, termina o texto.

Nascida em Lisboa em 1937, Maria Teresa Horta frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube e militante ativa nos movimentos de emancipação feminina.

ZAP // Lusa

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